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mercredi 21 octobre 2015

HAITI E ESTADOS UNIDOS, NOS CAMINHOS DA OCUPAÇÃO: REFLEXÕES PARA LUTAR CONTRA A OCUPAÇÃO E A DOMINAÇÃO MENTAL

HAITI E ESTADOS UNIDOS, NOS CAMINHOS DA OCUPAÇÃO: REFLEXÕES PARA LUTAR CONTRA A OCUPAÇÃO E A DOMINAÇÃO MENTAL
Jean FABIEN[*]
RESUMO
Escrito no âmbito da Conferência Internacional do Centenário da Ocupação Americana do Haiti, ocorrida na Unicamp no dia 30 de setembro de 2015, em torno do tema: 28 de julho de 1915 – 28 de julho de 2015: 100 anos de Ocupação Americana do Haiti. Da Ocupação militar à dominação política e econômica: O que tem que ser compreendido e memorizado?, este artigo pretende discutir aqui duas ideias principais. Após mostrar e analisar por qual processo Haiti se liberou da trilogia colonial europeia (França, Inglaterra e Espanha), ele problematiza as relações entre Estados Unidos e Haiti, repartidas no que chamamos os três grandes momentos históricos (1789-1804; 1804-1864; 1864-1915) mostrando que o projeto de ocupação, a dominação, a desigualdade e o racismo sempre estiveram no centro destas, e que, por outro lado, o ato de não reconhecimento pelos Estados Unidos da independência haitiana foi uma estratégia americana perfeitamente refletida para manter o Haiti numa situação de fragilidade e de enfraquecimento. O artigo se ambiciona então a lembrar do caminho que levou à ocupação de 1915; estabelecer que este reconhecimento oficial da independência, pelo qual o governo haitiano estava infatigavelmente lutando e reclamando de todo Estado, dos Estados Unidos, em particular, não resolveu absolutamente nada no seu tratamento como Estado fracassado, apesar de ter sido um passo muito significativo e importante no âmbito da diplomacia internacional; por fim, propor algumas ideias que poderiam ajudar nas lutas atuais pela liberação da nação haitiana da ocupação física e da dominação mental. 
Palavras chave: Haiti. Estados Unidos. Ocupação. Dominação 

ABSTRACT
Writing in the context of the International Conference of the American Occupation of Haiti Centenary, which took place at Unicamp on September 30, 2015, on the theme: July 28, 1915 - July 28 2015: 100 years of American Occupation of Haiti. From the Occupation military to the political and economic domination: What has to be understood and memorized?, this article discusses two main ideas here. After showing and analyzing process by which Haiti released of European colonial trilogy (France, England and Spain), he discusses the relationship between the United States and Haiti, divided into what we call the three major historical periods (1789-1804, 1804-1864; 1864-1915) showing that the occupation project, domination, inequality and racism have been at the center of these, and on the other hand, the act of non-recognition by the US of Haitian independence was a perfectly reflected American strategy to keep Haiti in a fragile and weakened situation. The article then aims to remember the path that led to the occupation of 1915; establish that this official recognition of independence for which the Haitian government was tirelessly struggling and complaining of any State, the United States, in particular, did not solve anything at all in their treatment as a failed state, although it was a very significant and important step in international diplomacy; finally, propose some ideas that could help in the current struggles for the liberation of the Haitian nation of the physical occupation and mental domination.
Keywords: Haiti. U.S. Occupation. Domination
  
INTRODUÇÃO
Os objetivos desta conferência eram analisar essa ocupação na dimensão do imperialismo cultural e político americano após um século e problematizar as relações entre Estados Unidos e Haiti desde o nascimento das duas nações. Esta intervenção consistia em traçar um pouco a trajetória histórica do Haiti nas suas relações com Washington e em dar, de um ponto de vista metodológico, uma entrada introdutiva e analítica aos diferentes temas debatidos nessa conferência. Esta introdução serviu a problematizar então as circunstancias históricas, geopolíticas, sociais e políticas que provocaram a ocupação americana do Haiti em 1915.
Além disso, esta conferência era sobretudo uma excelente ocasião de continuar a fazer perguntas pertinentes e aprofundar este exercício de reflexão ao qual me fui consagrado desde comecei a estudar a natureza e o conteúdo das relações entre Haiti e as nações mais desenvolvidas, em particular, os Estados Unidos. Historicamente, são relações sempre caracterizadas por uma diplomacia de desigualdade e de preconceito, ou seja, relações entre dominantes e dominados; fortes e fracos; civilizados e primitivos; racionais e alienados; superiores e subalternos, países industrializados ricos e países pobres. O comportamento pacífico dos Alemães que, ao invés de defender os Haitianos protegendo seus próprios interesses econômicos contra os marines americanos, prefiram sair do território, tende a mostrar que as relações haitiano-alemães, que, desde 1805, tinham acumulado uma taxa de 80% de benefícios para os Alemães, foram também marcadas pela desigualdade, pelo racismo e pela hipocrisia, pois o reconhecimento da soberania e da independência do Haiti nunca beneficiou de um tratamento oficial pela chancelaria alemã. Ao contrário, parece que toda Europa se uniu, pela contaminação do racismo dos negros, para combater o Haiti independente.
Se ficarmos só olhando na ocupação sem levar em conta o percurso histórico que nos levou a esta tragédia, será difícil compreendê-la na sua essência. Por isso, é importante, primeiro, ver o processo de transformação de Santo Domingo em Haiti para entender que a ocupação americana não podia ser efetiva sem a violação flagrante da soberania territorial e política do Haiti, da sua independência, da liberdade do povo haitiano, dos direitos humanos e dos princípios democráticos, como, por exemplo, o direito de cada povo de autogovernar-se, qualquer seja sua situação interna. Em segundo lugar – como este artigo pretende ser uma tentativa de mostrar que não pela magia nem pelo misticismo que esta ocupação aconteceu, mas, ela é o fruto de uma prática política, social e cultural contínua, que, ao longo da nossa historia social, só produz efeitos negativos – será fundamental abordar as relações entre Estados Unidos e Haiti desde o comércio clandestino e ilegal até acontecer a ocupação de 1915 passando pelo reconhecimento legal e oficial da independência do Haiti pelos Estados Unidos a partir do Tratado de 1864, a fim de mostrar que, desde seu nascimento, o novo Estado independente enfrentava problemas estruturais cruciais relativos à sua gestão autônoma, por outro lado, ele sofreu de um isolamento e de um esquecimento inacreditáveis no seio da sociedade das nações. O que nos traduzimos, desde então, como uma marcha quase inevitável para a ocupação militar e para a dominação mental.

1.      DE SANTO DOMINGO A HAITI

Santo Domingo, magnífica e ótima colônia da França, belíssima filha da Metrópole francesa, sua historia, infelizmente, não faz parte dos manuais escolares dos garotos franceses nem dos currículos universitários. Que pena! Uma colônia de uma historia tão brilhante e impactante no mundo, que, pela causa da sua exploração excessiva, serviu a enriquecer e fortunar a França; foi não somente a colônia mais prospera e rica da França em termos econômicos, mas a mais produtiva de todas as outras colônias francesas reunidas junto no mundo em termos de espaço geográfico, de riqueza da natureza e de fertilidade do sol. No entanto, o garoto francês é um verdadeiro analfabeto da revolução haitiana (CAUNA, 2009). Parece brincadeira, mas é verdade: a historia da revolução das massas populares de escravos negros em Santo Domingo, completamente privadas de equipamentos sofisticados de guerras e absolutamente ignorantes das grandes técnicas de combate tais como são ensinadas nas escolas de guerra ocidentais em geral, na França em particular, não se insere no programa nacional de educação da França, não é, portanto, ensinada aos Franceses, e também, – o que nos surpreende –, ela é muito pouco ensinada na América Latina. Por quê? O que isso significa?
Uma das causas explicativas a isso é a derrota histórica do exercito francês dirigido nessa época por Napoleão Bonaparte durante as guerras revolucionárias dos escravos que se iniciaram, timidamente, desde 1791, mas, explodiram efetivamente a partir de 1802, após a França ter manifestado a vontade de restabelecer a escravidão uma vez abolida em 1794 sob a base de um decreto tomado por ela mesma. É que, em segundo lugar, até hoje no século XXI, pelo seu ódio e racismo dos negros, os Franceses nunca querem aceitar essa derrota. Trata-se de um racismo doente da França que lhe faz esquecer todas as bondades e todos os benfeitos da sua antiga colônia, tornada independente, na sua prosperidade econômica. Um racismo e uma enfermidade espiritual, como disse Fanon (2001), que fazem com que a França, ao não querer aceitar esta independência, deifica Toussaint Louverture enquanto nunca cessa de demonizar Jean-Jacques Dessalines. « Le peuple colonialiste ne sera guéri de son racisme et de son infirmité spirituelle que si, réellement, il accepte de considérer l’ancienne possession comme une nation absolument indépendante, aponta Frantz Fanon »[1] (FANON, 2001, p. 127). Mas, a França esqueceu também que seus comportamentos e suas ações injustas, no fim do século XVIII e no início do século XIX, foram um dos catalizadores das revoltas que aconteceram nas todas as colônias. Ela esqueceu, ademais, que, ao ficar ignorando e menosprezando a revolução haitiana, ela contribuiu a reforçar seu significado, a aumentar seu valor para o mundo e tornar os Haitianos cada vez mais orgulhosos da sua independência e liberdade conquistadas ao preço do sangue. Portanto, o racismo feroz francês participou, de certa maneira, da grandeza e da importância que a revolução haitiana adquire hoje.
Com efeito, fundado pelos colonizadores franceses nos anos 1625, Santo Domingo, a parte oeste da ilha Hispanhola, é fruto de um acordo pela partilha desta encontrado entre colonizadores espanhóis, que se terem instalado na ilha desde 1492, e colonizadores franceses. Este Santo Domingo, desde Toussaint Louverture, que representa sua figura emblemática das revoltas no século XVIII até o início do século XIX, caminhou nas estradas de desaparecimento não apenas em termos de nome, mas também em termos de sistema. De fato, os últimos confrontos mortais de 1803 o transformaram em terra de liberdade e de independência. Com efeito, a França começou a perder, a partir do fim do século XVIII, o controle da quase totalidade das suas colônias, principalmente, Santo Domingo, não somente pela causa das situações de turbulências e revoltas que cresceram dentro destas, mas também pela causa dos problemas internos aos quais confrontava a França, como, por exemplo, o questionamento da monarquia e a reivindicação de uma nova república pelos Franceses que não demoravam a iniciar suas próprias lutas revolucionárias. Além de várias outras situações relevantes, a decisão, em 1802, da França pelo intermediário de Bonaparte de restaurar a escravidão abolida em 1794, foi o último caso que inflamava a raiva dos escravos, pois, o cumprimento de tal decisão, faria desaparecer a jamais a esperança da independência e da liberdade pelas quais os escravos estavam lutando, morrendo, fugindo, se suicidando.
Ora, sem precisar retomar as diversas maneiras de resistir dos Índios para manifestar sua rejeição do sistema colonial, é preciso lembrar que os negros africanos escravizados nunca aceitaram também essa condição escravizante e desumanizante, e, como os Índios, eles levaram diversas formas de lutas para sair dessa situação: fugas, quilombolas, suicídios, incêndios. Se as revoltas em Guadalupe e Martinica se pacificaram antes de se pararem definitivamente, com Toussaint Louverture, a colônia de Santo Domingo continuou suas lutas pela independência apesar de, em junho de 1802, ser capturado pela França onde morreu em abril de 1803. A captura de Toussaint, ao invés de ser uma solução colonial para retardar ou aniquilar os movimentos revolucionários dos escravos e destruir seu sonho de liberdade, foi, de preferência, uma ótima ocasião para que estes movimentos possam alcançar uma dimensão mais energética com a intrepidez dos homens como Dessalines, Pétion, Christophe, Capois dentre outros. Então esta captura fortaleceu o caminhou da liberdade e da independência do Haiti. Toussaint Louverture faleceu em abril de 1803, infelizmente, não viu essa independência pela qual combateu vida inteira, pois, foi no dia 18 de novembro de 1803 que o exercito francês – mais organizado e equipado do que os grupos armados dirigidos pelos generais indígenas que tinham servido no exercito francês – foi definitivamente derrotado.
Do ponto de vista lógico e em termos de tratamento proporcional, não tem como falar, no sentido técnico do termo, de exercito haitiano (como os historiadores o chamaram) por, pelo menos, duas razões fundamentais. A primeira é que a revolução de Santo Domingo foi uma revolução essencialmente dos escravos contra o sistema colonial em toda sua integralidade e crueldade para eliminar, de maneira definitiva, todo este arsenal racista, segregacionista e colonialista europeu. Ou seja, ela foi a obra magnânima de uma banda de oprimidos contra todos seus opressores. A segunda razão diz respeito ao fato de que não é por que uma minoria de generais, começando por Toussaint até Dessalines, Pétion, Leclerc, Rigaud, Capois, Christophe, tinham servido nos exércitos colonialistas francês, espanhol e inglês, antes de se rebelar contra eles, que poderíamos peremptoriamente sustentar que a batalha de Vertières foi um confronto mortal entre dois exércitos a propriamente falar, como se estivéssemos falando de dois exércitos profissionais bem treinados, que, cada um em que diz respeito, está ciente das técnicas e regras da guerra. Na verdade não! Não se trata de nada disso.
As únicas técnicas e regras de guerra que os escravos conheceram eram sua consciência humana de que as condições nas quais estão colocados são indignas do ser humano. Não tinha teoria social e científica nenhuma para lhes apreender isso. Eis o que concede à revolução haitiana toda sua originalidade e particularidade na historia mundial. Ela é o produto da rebelião dos escravos que, na realidade, nunca perderam a consciência de saber que eles não são escravos mas seres humanos escravizados; eles não são animais mas domesticados; eles não são coisas mas coisificados;  e que um dia esta consciência de liberdade e de dignidade como ser humano ia se manifestar plenamente (FANON, 1961). Todavia, – para refutar a tese que faz passar os lideres da revolução por vulgares analfabetos e iletrados –, precisamos entender três coisas. Primeiro, Toussaint era um gênio em matéria de organização dos combates e de posicionamento das tropas. Podemos acreditar, com certeza, que Dessalines, Pétion, Christophe, Capois e outros, que lutaram sob sua comanda, herdaram desta potencialidade e competência e se inspiraram do seu gênio estratégico para levar os escravos à independência e à liberdade. Em segundo lugar, estes e outros, por terem servido nos exércitos colonialistas francês, inglês e espanhol, sob a ordem de Toussaint, adquiriam experiência de guerra, sabiam manobrar armas, sabiam como organizar os grupos de escravos e aprendê-los a lutar e a se defender contra o inimigo, e, por fim, no que dizem respeito às massas populares de escravos, elas estavam prontas e preparadas psicologicamente a morrer e a enfrentar os mesmos efeitos perversos do genocídio índio ao invés de continuar sendo escravos.

Derrotada, a França perdeu a jamais sua melhor colônia! Santo Domingo, colônia francesa, desaparece a jamais, surgiu, então, uma nova ordem social, a dos Haitianos num Haiti soberano, livre e independente. Porém, ela nunca vai deixar a nova nação tranquila!

Essa ruptura brutal com a ordem colonial europeia significaria duas coisas: primeiro, um rompimento radical e total com as velhas práticas coloniais, segundo, a criação de uma nova sociedade soberana e livre dos negros que se autogovernarão, organizarão sua própria vida social e definirão seu próprio destino. Porém, é importante sublinhar que, do ponto de vista de experiência política, a gestão dessa independência era um grande desafio. Muito frágil e mesmo problemático, o novo Estado devia enfrentar uma dificuldade enorme: a fraqueza de um real plano de governança dos primeiros dirigentes para definir o destino deste povo frescamente saído da escravidão. Enguiçado de modelo, o novo Estado, oscilando entre imitação e plágio, acabou, finalmente, malgrado ele e nas suas atuações, de reproduzir o mesmo sistema colonial antigo. Do outro lado, as últimas guerras de independência deixaram um país abalado, destruído, sem quase nada em termos de recursos naturais, financeiros e econômicos, em termos de produção agrícola e de recursos humanos capazes de encontrar soluções racionais aos problemas complexos. Assim, de 1803 a 1806, Haiti está à sua primeira grande fase de experiência democrática com Dessalines que, apesar de tudo, se esforçou em mostrar sua capacidade em identificar alguns problemas estratégicos e urgentes sobre os quais o Estado haitiano teria que agir rapidamente.
O colonizador francês desapareceu fisicamente, mas deixou um mito esquizofrênico de retorno no imaginário da sociedade haitiana, em particular, na mente dos novos dirigentes, tal foi, por conseguinte, o elemento central da política de segurança nacional do novo estado que não dispus de recursos econômicos e financeiros próprios para sustentar e conduzir essa política. Por outro lado, existiu uma outra ameaça iminente, a dos Espanhóis espalhados na parte este, hoje a República Dominicana. Os dirigentes haitianos precisavam de um plano estratégico para expulsar esses Espanhóis, por que sua presença na região representava uma grande ameaça política e geopolítica para a independência do Haiti. Isso permite entender também, como já sublinhamos, que a revolução haitiana, apesar de ter sido radical, não era total. No primeiro caso, as estratégias do governo haitiano foram trabalhar a reconstituir rapidamente a produção agrícola para poder alimentar sua população, comercializar com os outros países, comprar armas e equipamentos de guerra para fortalecer seu exercito, comprar materiais de construção para construir fortalezas que permitem de se proteger contra quaisquer eventuais ataques da França. Nos Estados Unidos ele conseguiu as armas e munições enquanto na Inglaterra os produtos alimentares, pois, desde Toussaint, no contexto das lutas revolucionárias, ambos já tinham vendido armas e equipamentos de guerra ao Santo Domingo para combater a França. O segundo caso foi um fracasso por Dessalines, não por que era incapaz de realizá-lo, mas por que faleceu antes de levar a sucesso sua política de liberar inteiramente a ilha expulsando os Espanhóis. A reunificação da ilha será um sucesso com Boyer a partir de 1821.
Haiti nasceu com muitas dificuldades de caráter social, político, econômico, financeiro, técnico e científico. Uma organização interna e uma política de centralização para criar um Estado forte – como fez a China depois – foi uma das propostas de Dessalines para governar o país. E como esta visão não poderia ser possível e efetiva sem mexer nas grandes propriedades deixadas pela França e monopolizadas pelos generais, então isso provocou conflitos virulentos internos até a morte daquele que tinha esta visão, neste caso, Jean-Jacques Dessalines. No dia seguinte do seu assassino em 17 de outubro de 1806, Haiti já se abriu ao comércio internacional, exceto à França, numa desordem total, seu mercado nacional já era acessível aos países como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Dinamarca com os quais ele se comercializou numa perfeita clandestinidade, ilegalidade e irregularidade, por que, por um lado, a França estava pressionando todos os países para não entrar em contato com essas bandas de rebeldes e criminosos que massacraram os brancos, pelo outro, Haiti estava sofrendo da sanção de isolamento imposta pela comunidade internacional dominada nessa época pela França. Ou seja, no desrespeito e na ausência total das regras de comércio e apesar da proibição da França feita aos outros países europeus de estabelecer relações comerciais com suas antigas colônias, em particular, as que se rebelaram contra ela, portanto, Santo Domingo. Antes de se ter convencido de uma perda definitiva de uma esperança de reconquistar essa colônia, a França nunca abandonou sua ilusão de continuar a considerar Haiti como sua colônia, por isso, nunca quis, até 1825, reconhecer sua independência.
Com Dessalines, apesar desses caracteres clandestino e isolado que dominavam as políticas econômicas internacionais do Haiti com os outros países, tais caracteres foram muito desvantajosos e deficitários para a economia haitiana, Haiti conseguiu se impor e definir suas próprias regras e políticas de comércio no interesse fiscal do país, então, não foi tratado, como vamos ver depois, enquanto um pequeno estado que está buscando privilégios das grandes nações.
Para gerir a independência, algumas decisões de caráter socioeconômico e político, sobretudo no plano nacional, se impõem entre as quais a questão da terra e da política agrária; a repartição das riquezas e das competências disponíveis em diferentes postos estratégicos da nova administração; a gestão dos pequenos recursos disponíveis do Estado e o desenvolvimento da produção agrícola. Do outro lado, sobre o plano internacional, o país precisava se abrir ao mercado internacional desde que fortaleça seu Estado antes de incentivar os investimentos estrangeiros. Mas, a grande questão é como?
Em primeiro lugar, sobre o plano da política interna, o Estado haitiano organiza seu espaço geográfico definindo os departamentos mais importantes como Artibonite, Sul, Sudeste e Oeste, cada um dirigido por um general; deslocando o capital Porto Príncipe por razão de estar muito perto das zonas litorais para Marchand – cidade originária de Dessalines; organizando o setor agrícola encorajando as produções de café, cacau, algodão, índigo, Campeche. Em segundo lugar, o novo governo empreende de estabelecer uma gestão justa dos bens do Estado no interesse geral da sociedade para ter recursos financeiros suficientes para poder comprar produtos comestíveis nos Estados Unidos, armas e munições pela defesa da integridade do território contra as ameaças da França na Inglaterra. As ameaças francesas eram reais e fortes. Por isso, segundo Madiou (1847-1848) e Ardouin ([199-]), a maior parte dos recursos econômicos do país – antes da divida da independência imposta pela França – foi destinada às compras de equipamentos militares, ou seja, 2/3 do PIB do país eram absorvidos pelas despesas de tal natureza.
Perseguido infatigavelmente pela França, esquecido na historia mundial, abandonado pela sociedade das nações, compelido a ficar num comércio clandestino sempre deficitário para sua economia e muito mais beneficiário para as grandes nações, Haiti está pagando o preço da conquista da sua independência e liberdade que, nas visões discriminadoras e preconceituosas dos países desenvolvidos, foram julgadas prematuras no plano político e socialmente mal conquistadas. O país foi colocado numa situação de quase não escolha: ou aceitar a recolonização pela França ou por qualquer outro país da Europa ou do mundo, como fez a República Dominicana aceitando a recolonização da Espanha no século XIX; ou continuar comercializando na clandestinidade com todos os riscos econômicos e financeiros que este tipo de comércio tem; ou sofrer esse isolamento internacional com dignidade defendendo até o último suspiro sua liberdade e independência. Apesar de ser um Estado fraco e ter nascido com todas as suas vulnerabilidades estruturais e infra estruturais, com seus problemas sociais e políticos, com suas dificuldades econômicas, a primeira escolha seria a última à qual nossos heróis nacionais se submeteriam. Desse fato, Haiti aceitou, malgrado ele, o comércio clandestino, eminentemente deficitário para os países impotentes como ele, e, em consequência, sofreu corajosamente o isolamento como sanção da comunidade internacional. Para entender por quê os países mais desenvolvidos queriam afastar o Haiti e proibir seu nome nos conselhos das nações, é importante compreender suas relações com os Estados Unidos em três etapas: primeiro quando Haiti era ainda uma colônia francesa; segundo, após sua independência, mas tratado como Estado paria; terceiro, quando, oficialmente, o Departamento de Estado em Washington decidiu reconhecer sua independência.

2.      ESTADOS UNIDOS E A COLÔNIA FRANCESA DE SANTO DOMINGO (1789 – 1803)

As relações, quer sejam comerciais ou diplomáticas, entre Estados Unidos e Santo Domingo nesta época, eram tímidas, ou seja, do ponto de vista prático, não se desenvolveram como deveriam ser. Isso pode se explicar levando em conta três elementos. Primeiro, trata-se de uma colônia francesa, dominada e controlada pela Metrópole francesa, então, propriedade exclusiva da França. Segundo o Pacto Colonial – que se aplicou em Santo Domingo só a partir de 1765, a última colônia francesa onde chegou –, nenhuma colônia francesa pode comercializar ou empreender qualquer tipo de relação com um outro país sem a autorização expressa da Metrópole. Este Pacto proíbe categoricamente qualquer forma de aprovisionamento em matérias primas das colônias francesas por uma outra nação. A Metrópole se responsabilizou por esta tarefa. Porém, como ela não podia fornecer-lhes todos os produtos que elas necessitam, em particular, os produtos comestíveis, bebidas e outras, pela alimentação dos cólons e dos escravos, a Inglaterra e os Estados Unidos eram os principais parceiros comerciais da França nesse domínio. Em segundo lugar, como as colônias são, em termos econômicos, investimentos importantes; fontes de grandes interesses; extensão territorial da hegemonia francesa do ponto de vista do imperialismo político e cultural francês, para proteger e garantir esta hegemonia e também evitar a perda, sobretudo, de Santo Domingo, sua fortuna e melhor fonte de enriquecimento, a França temia a influência dos outros países, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos em particular. Inglaterra e Alemanha a respeito das rivalidades políticas já existentes na Europa; Estados Unidos por que são um país em crescimento rápido cujo sucesso, sendo previsível, poderia ser um obstáculo para a França. A tabela seguinte mostra como florescente era a economia de Santo Domingo.
Exportações de Santo Domingo em 1789
Produtos
Quantidade em libras exportada
Espaços atribuídos a produtos em metros quadrados
Açúcar
141.089.831
46.827
Café
68.151.181
56.688
Algodão
6.286.126
15.754
Índigo
930.016
63.701
Cacau
150.000
2.172
Fonte: Turnier, op. cit., p. 25.
O comércio exterior em 1788 de Santo Domingo era avaliado a 214.000.000 francos franceses equivalentes de 42.000.000 dólares americanos na época. As exportações eram de Fr 152.460.000, importações de origem francesa eram de Fr 54.570.000 e de origem estrangeira Fr 7.038.000. Nesse período, os produtos importados dos Estados Unidos representavam um valor de Fr. 5.922.000 enquanto as exportações de Santo Domingo para os Estados Unidos não ultrapassavam Fr 3.263.000 (TURNIER, 1955, p. 25-26).
Em terceiro lugar, nessa época, Estados Unidos eram também uma nação muito jovem, recentemente independente, seja em 1776, mas, uma sociedade fortemente agrícola que produz muito e cresce rápido. A maior parte da sua produção era consumida pela sua população estimada a 40 milhões de habitantes. Os Estados Unidos estavam numa fase de criação de riquezas pouco avançada, então as suas exportações para a parte francesa de Santo Domingo, como acabamos de ver, eram fracas não somente pelo fato do controle e da restrição da Metrópole, mas, sobretudo, pelo limite do seu sistema de produção. Os Estados Unidos produziram suficientemente para cuidar e alimentar seus pares e poder exportar seus excedentes lembrando que durante esse período o país conheceu um crescimento econômico muito acelerado.

3.      OS ESTADOS UNIDOS E “OS REBELDES DA ILHA DE SANTO DOMINGO”, POSSESSÃO FRANCESA (1804-1864)

Duas nações de um mesmo continente, de uma historia colonizadora semelhante, mas, que, sobre o plano de desenvolvimento democrático, humano e social, de crescimento econômico, de criação de riquezas, estão num processo de evolução completamente desigual, ou seja, enquanto um se fortalece, se enriquece e se amplia impondo-se no mundo através da sua passagem de um país agrícola a um país industrializado o outro se enfraquece, se empobrece, seu estatuto de Estado está sendo contestado e questionado, ou, talvez, esteja num processo de esperar a suprema decisão da sociedade das nações, neste momento, já se atrasou bastante das três Revoluções Industriais sucessivas que já ocorreram no mundo nos séculos XVIII, XIX e XX. Ambas as nações não foram tratadas da mesma maneira pela comunidade internacional: o respeito de uma é o desrespeito da outra; a honra de uma é a humilhação da outra. Enfim, duas nações com uma historia muito inspiradora de maneia distinta pela humanidade, mas, cujas relações não cessam de lembrar as do mestre com escravo no período colonial. Todavia, apesar de tudo isso, Haiti permaneceu um mercado importante para os Estados Unidos nos dois sentidos: os produtos haitianos como café, cacau, algodão e índigo – Haiti não podia contar mais com a produção da cana de açúcar cujas plantações foram arrasadas pelas guerras revolucionárias –conseguiram ocupar um lugar importante nas importações americanas; as matérias primas americana tinham um lugar de predileção no mercado haitiano. A tabela seguinte resume as importações dos Estados Unidos do Haiti:

Importação dos Estados Unidos do Haiti
Ano
Importação em milhões de dólar americano
1804 – 1085
7, 331. 983
1805 – 1806
6, 745. 484
TOTAL
14. 077. 467
Fonte: Turnier, op. cit., p. 95.
Segundo Turnier, as importações haitianas representavam um terceiro nas importações gerais dos Estados Unidos através do mundo. Para a França, o comércio que se faz entre Haiti e Estados Unidos é ilegal por que, de um lado, não respeita as regras da França que definem como essas relações devem ser estabelecidas com suas colônias, Haiti é ainda considerada como possessão francesa do outro. As pressões da França têm impactos psicológicos e diplomáticos sobre o Haiti e não afetam, na verdade, os Estados Unidos para quem elas foram uma grande vantagem para que continuem ignorando a independência do Haiti e tratá-lo como possessão francesa. Assim, entre 1809 e 1815, para o Departamento de Estado, as exportações americanas vão para as possessões francesas da ilha de Santo Domingo e não para um país livre e independente que se chama Haiti.
Exportações dos Estados Unidos para as possessões francesas (1809-1815)
Ano
Exportações estimadas em Dólares
1809-1810
108.970
1810-1811
408. 885
1811-1812
287.631
1813-1814
178.179
1814-1815
1.805.039
TOTAL
2.788.704
Fonte: Turnier, op. cit., p. 104.
O dilema é que, tendo sido reais, fortes e constrangedoras, as pressões da França não concerniram só os Estados Unidos, mas, qualquer país do mundo foi intimado pela França a cessar as relações com Haiti no âmbito da política do seu isolamento internacional, por outro lado, essas pressões, não podiam, na verdade, impedir um ato oficial de reconhecimento do Estado do Haiti pelos Estados Unidos. A França topou e promoveu ferozmente o isolamento do Haiti nos conselhos das nações. A refuta do Departamento de Estado do reconhecimento da nossa independência não tem nada a ver com as pressões da França, foi, de preferência, uma decisão deliberada sua, pois, malgrado a lei de 28 de fevereiro de 1806[2], até 1860, os Estados Unidos continuaram comercializando na clandestinidade com Haiti e sempre o consideraram uma possessão francesa e não país independente[3].
Haiti, sétimo parceiro comercial importante dos Estados Unidos, permaneceu, até 1892, o terceiro grande fornecedor do café dos Estados Unidos após Brasil e Cuba (Turnier, op. cit., p. 119, 154). Com efeito, antes de ser concorrido pelo café brasileiro, Haiti, após Cuba, representou o maior mercado em matéria de café nas importações dos Estados Unidos com uma quantidade estimativa de 14 414 251 livres entre 1824 e 1825. Porém, devido às crises econômicas e políticas internas, Haiti sofreu um declínio nas produções do açúcar, café, algodão e cacau (Ibid, p. 119-121). Os déficits do café nos Estado Unidos foram compensados pela madeira de Campeche, encontrada unicamente no Haiti entre 1879 e 1880 cuja exportação foi estimada a 115,6 milhões de libras (Ibid, p. 155).
Tudo isso pode nos levar a dizer que na perspectiva de estabelecer sua hegemonia, os Estados Unidos aplicaram uma diplomacia capitalista que, de qualquer forma, lhes foi fundamental na medida em que é ela que lhes permitiria de impor realmente seu imperialismo na América, nos países caribenhos, em particular, no Haiti e na República Dominicana. Ou seja, a diplomacia estasudense se revelou mais econômica, financeira e comercial do que política por que se funda nos interesses capitalistas. Ademais, a diplomacia americana não se faz com as belas palavras diplomáticas e jurídicas, e os Americanos, mesmo antes da Primeira Guerra mundial, entenderam perfeitamente que o poder econômico é a força central e suprema da diplomacia internacional para a dominação do mundo. Portanto, se devermos partir do Haiti independente em 1804, podemos dizer que os Estados Unidos consagraram pelo menos 60 anos a construir no Haiti a base dessa diplomacia do Dólar, para usar os próprios termos de Suzy Castor (1971), antes de manifestar a vontade de reconhecer oficialmente sua independência. Por quê? É isso que vamos tentar ver agora.

4.      ESTADOS UNIDOS E O ESTADO INDEPENDENTE DO HAITI (1864 – 1915): NO CAMINHO DA OCUPAÇÃO

Por quê os Estados Unidos demoraram tanto a reconhecer o Haiti como um país independente e livre, enquanto a França, que estava lhe pressionando ao mesmo tempo perseguindo o Haiti, o fiz antes deles, seja em 1825, desde que Haiti tenha sido obrigado a pagar uma indenização? Não temos certeza que seja possível responder claramente a esta pergunta tão difícil que, há muito tempo, intriga e continua intrigando historiadores e especialistas das relações internacionais e diplomáticas. Todavia, é um fato real de que, para dominar um país em todo sentido, é preciso desvalorizar sua cultura e sua diplomacia; enfraquecer seu sistema social; trabalhar a aniquilá-lo, durante muito tempo, na sua política interna e externa; nacional como internacional. Ora, o reconhecimento da independência de um país é um dos atos altamente significativo na diplomacia internacional entre dois países e na consolidação dos interesses econômicos, políticos e culturais de cada um. Então, quando um país se recusa a reconhecer a independência do outro, é uma estratégia de restringir sua liberdade; de não tratar ele como igual e de limitar seu poder de decisão. Foi exatamente o que fizeram os Estados Unidos.
Com efeito, a diplomacia do Dólar serviu, durante 60 anos, a, por um lado, fortalecer a política estrangeira dos Estados Unidos no Haiti e criar um sistema financeiro no seu interesse e estabelecer um imperialismo cultural; enfraquecer até desvalorizar a política interna do Haiti, pelo outro. Pois, tanto o isolamento quanto o comércio clandestino, nenhuma dessas situações nunca foi no interesse dos Haitianos, mas no dos Estados Unidos que eram seu principal parceiro comercial. Portanto, não somente, existiu, ao mesmo tempo, uma concentração do comércio haitiano no mercado americano, enquanto os Estados Unidos têm outros parceiros por toda parte no mundo, mas sobretudo, os Estados Unidos, que, desde o início do século XIX, se afirmaram como lideres do continente, praticavam uma outra forma de sanção camuflada a respeito do Haiti durante esses 60 anos. Essa sanção pode ser explicada de duas maneiras: primeiro, o silencio, antes e depois, dos Estados Unidos perante as exigências da França sobre o Haiti para que ele pague a indenização pelo reconhecimento da sua independência, nesse sentido, os Estados Unidos se fizeram cúmplices desse crime imperdoável, segundo, o fato de que manter Haiti nessa situação de clandestinidade fragiliza sua soberania e independência e enfraquece seu sistema econômico que, a partir de certo momento, será invadido e controlado mais facilmente por eles.
Com efeito, na segurança de ter, finalmente, o controle do sistema inteiro haitiano: financeiro, econômico, político, cultural e social, e de ter acumulado muitos interesses comercial, financeiro e econômico no país, Washington começou, a partir de 3 de dezembro de 1861, a manifestar a vontade de tornar efetivo o reconhecimento oficial da independência do Haiti. Esta decisão, tão esperada pelo governo haitiano, foi comemorada pela chegada, em setembro de 1862, de uma primeira missão diplomática americana no Haiti, e materializada pela construção do primeiro consulado americano no Haiti. Isso traduz um primeiro passo muito significativo, pois, em comparação aos anos anteriores, ou seja, entre 1804 a 1860, todos os países com os quais Haiti se relacionou se contentaram a nomear um simples representante – às vezes sem uma carta oficial do presidente – pela proteção dos seus interesses e não no âmbito das relações diplomáticas, propriamente ditas, como isso se faz normalmente entre os outros países mais avançados do que o Haiti. Após longas negociações e discussões, as duas nações aceitaram, em 3 de novembro de 1864, assinar um tratado de caráter mais comercial do que político. Mas, este tratado constitui tanto a base da diplomacia dos negócios americana no Haiti como a certidão de nascimento das relações diplomáticas, do ponto de vista oficial e estático, entre Haiti e Estados Unidos. Assim, por este tratado a independência haitiana foi oficialmente reconhecida pelo Departamento de Estado, mas não do jeito que Haiti quer, mas na lógica dos Estados Unidos.
Apesar de não querermos entrar no detalhe desse tratado, que mereceria de um estudo analítico e crítico mais aprofundado, é importante dizer que, não apenas, este tratado abriu a porta da diplomacia haitiano-americana, mas sobretudo, foi um dos documentos mais importantes para o futuro da política americana no Haiti até o desembarque dos soldados americanos em 1915. Segundo Turnier, ele foi assinado pelo governo haitiano sem quase nenhuma modificação, exceto as cláusulas que impediram aos estrangeiros de possuir bens e propriedades no Haiti. O fato real é que o tratado foi redigido nos Estados Unidos e concebido nos interesses dos Estados Unidos e nas desvantagens dos Haitianos cujos interesses são sempre mal defendidos pelos seus dirigentes nas negociações internacionais. Com efeito, o tratado estipula três princípios fundamentais que, embora não vamos desenvolvê-los amplamente, merecem ser sublinhados. Trata-se, então, da cláusula da nação mais favorecida – lembrando que a França reivindicou antes dos Estados Unidos o mesmo privilégio –; do princípio da igualdade de tratamento entre comerciantes americanos e haitianos em matéria de impostos e do princípio da reciprocidade comercial[4]. Este tratado principalmente pode ser considerado como uma ferramenta que preparou a ocupação de 1915 na medida em que ele serviu a fragilizar consideravelmente todo o sistema financeiro, político e econômico do país. Ao ter assinado este tratado, Haiti liberou sua economia aos Estados Unidos.
É difícil entrar aqui nas considerações casuais, ao mesmo tempo complexas e interessantes, da ocupação americana, que, talvez, façam objeto de uma outra análise, mas, precisamos entender que o Tratado de 1864, pelo seu conteúdo e pelas suas exigências, preparou o caminho para que esta ocupação aconteça e, os dirigentes haitianos, ao se livrarem nos conflitos rivais pelo poder, não tinham tempo suficiente para refletir sobre essa ameaça que era previsível. Ora, se ela era previsível, ela teria podido também ser evitada. Mas, infelizmente, temos aceitado esta ocupação, que acabou de criar uma dominação mental mais poderosa e quase invisível, como uma fatalidade. De fato, esta ocupação foi imposta pela convenção americana de 16 de setembro de 1915[5], que é uma continuação para não dizer um cumprimento do Tratado de 1864, da qual levantamos alguns pontos importantes. No seu artigo II, esta convenção nomeou um cobrador geral americano com responsabilidade de cobrar e aplicar os direitos de aduana. No artigo V, foi nomeado pelo Departamento de Estado um conselheiro financeiro delegado junto do ministério das finanças, carregado de reorganizar a finança do país e aplicar as receitas destinadas. Por fim, foi, formal e radicalmente, proibido ao governo haitiano, sem a autorização expressa e direta do presidente dos Estados Unidos, de aumentar a dívida pública (Art. VIII) e de modificar os direitos de aduana (Art. IX) na perspectiva de não reduzir as rendas. Assim, a convenção de 1915, após dar uma base legal à ocupação, consagrou a concentração das riquezas nas mãos dos Estados Unidos, criou da república do Porto Príncipe, expulsou os camponeses das suas propriedades. A sociedade haitiana aprendeu alguma coisa desta ocupação? O que devemos fazer para sair não somente da ocupação onusiana atual, mas sobretudo da dominação mental?

5.      O QUE TEM A APRENDER DA OCUPAÇÃO AMERICANA DO HAITI?

Vimos que com a França, antes de 1825, o cenário racista ficou pior. As diferentes apelações da França dos habitantes da ilha, deixam, facilmente, perceber o grau e a profundidade desses ódio e racismo: rebeldes, bandidos, bárbaros, burros, cruéis, canibais, são, por fim, qualificativos malditos que não se faltaram nos meios sociais racistas franceses para caracterizar os habitantes da república independente do Haiti. Portanto, as relações diplomáticas haitianas da pós-independência foram fortemente marcadas pelo racismo, pela homofobia, pelo tratamento desigual entre estados, pelas campanhas de desvalorização da historia revolucionária do Haiti e, por fim, pelo isolamento diplomático do país.
As relações entre Haiti e Estados Unidos, desde a proclamação da independência em 1804, mais oficialmente, a partir de 1864, são, em grande parte, responsáveis pelo agravamento deste processo de tratamento como alienado que o Haiti contemporâneo passou a sofrer. Duas razões ao menos poderiam explicar isso. Primeiro, os Estados Unidos, lideres incontestáveis da América desde o século XIX, sempre trataram Haiti como um Estado fraco, impotente e rebelde em relação a sua estrutura social, um Estado nascido em circunstâncias históricas excepcionais com muitas dificuldades socioeconômicas, em outras palavras, sobre o plano do comércio internacional, Haiti era visto como uma espécie de campo vazio onde se faz bem aos Americanos de desaguar seus excedentes de produtos, ou seja, um mercado sem concorrência e regra. Segundo, enquanto segundo país da América a ter conquistado sua independência e liberdade, Haiti sofreu também o racismo americano em toda sua integralidade e crueldade no sul dos Estados Unidos. Com efeito, segundo Cauna (2009), os grandes proprietários americanos de escravos do sul, racistas por excelência, eram categoricamente opostos a todo tipo de relações entre Estados Unidos e "esta parte francesa da ilha de Santo Domingo" , rebelde, burro e imbecil.
O fato é que os Estados Unidos, até 1806, ainda não foram completamente liberados da escravidão. No sul, só existem escravos, povos oprimidos, seres maltratados e escravizados, por isso, parece estratégico para os colóns americanos de proibir todo contato com essas massas revoltadas da ilha caribenha na perspectiva de evitar qualquer contaminação. Na verdade, a revolução haitiana não era completa também, pois, até que Dessalines tenha decido de liberar a parte este da dominação espanhol – um projeto que ele não conseguiu levar a sucesso – a escravidão era ainda lá uma prática dos Espanhóis. Porém, a diferença se reside não na forma, mas no conteúdo entre as duas revoluções. É que no caso dos Estados Unidos, são proprietários de escravos americanos e ingleses que continuaram com a prática da escravidão, enquanto no caso do Haiti foi uma prática clandestina dos Espanhóis que, finalmente, iam ser expulsos da ilha.
Após 60 anos, como vimos, o Departamento de Estado aceitou tratar Haiti oficialmente como um país independente e não igual. Portanto, numa tal situação, o que de bom e de progresso poderíamos esperar provir desse reconhecimento que, alguns anos depois, não ia impedir a ocupação americana querida e negociada pelas classes políticas dirigentes e pelas elites econômicas da época? O problema é que a ideologia dessas mesmas classes ainda é dominante, presente e forte em diversas áreas importantes da sociedade e da arena política. No sistema político haitiano, os adeptos dessa ideologia são cada vez influentes e detém, infelizmente, o monopólio de decisão e de concentração do poder. É por isso que estão tentando, em cada ocasião, justificar a ocupação americana ressaltando alguns aspectos positivos como: construções de infraestruturas, modernização do Estado, florescimento cultural, crescimento econômico, controle dos comércios internos e externos, utilização "racional" das receitas do Estado, uma certa soberania interna do Estado etc., sem, no entanto, nunca perceber que isso tudo foi feito no interesse exclusiva, completa e unicamente do ocupante e dos grandes empreendedores americanos, e que, além disso, as consequências que vieram depois tinham sido terríveis e desvendaram a face oculta dos falsos projetos desenvolvimentistas[6]. Assim, é terrificante e mesmo uma insulta à inteligência humana querer justificar a ocupação americana que, em tudo sentido, não foi menos um mal[7] que a colonização europeia.          
Tal atitude ideológica precisa ser fortemente combatida, por que ela é uma reprodução de uma ideologia escravagista e colonizante que hoje em dia não pode ter seu lugar numa sociedade democrática e liberal que Haiti deve ser. Temos que afastarmo-nos de tal discurso maléfico de justificação. No entanto, não devemos ver a justificação em si como um ato simples ou inocente, ela é muito trabalhada e refletida, e seus instigadores e pensadores são ainda capazes de estar domesticando alguns pensamentos. Atrás desta justificação se escondem grandes interesses econômicos e uma apologia dos crimes cometidos contra o Haiti, por que, como a colonização, esta ocupação serviu a enriquecer uma parte da pequena burguesia exploradora haitiana e a enfraquecer consideravelmente nosso sistema político e econômico para que sejamos cada vez mais dependentes dos Estados Unidos, que nosso destino só dependa dos estrangeiros, e que, ao longo da historia, permaneçamos escravos mentais de um sistema poderoso que nos desumaniza.
Sim, nossa responsabilidade em tudo isso não pode ser ignorada, na medida em que, como disse Bourdieu (1992), entre o dominante e o dominado se estabelece um certo entendimento e acordo simbólico para que a dominação seja efetiva, em outras palavras, nenhuma dominação não pode ser possível sem o consentimento do dominado (Bourdieu, 1992, p. 116-149). Se Bourdieu está certo, Frantz Fanon (1961; 2001) nos mostra que a iniciativa de libertação e de descolonização física (no curto prazo), mental e psicológica (no longo prazo) pela revolução violenta pertence exclusiva e essencialmente ao povo oprimido. Lénine (1969), por sua vez, enfatizando também a revolução violenta, chamou muito nossa atenção sobre o fato de que apenas a revolução da classe proletária seja a verdadeira para sair da exploração excessiva da força do trabalho pelo Estado burguês e da escravidão mental. Nesse sentido, cabe ao povo haitiano saber se quer continuar a aceitar esse tratamento indigno e desumanizante que ele está sofrendo ou se vai sair dele por uma revolução social radical. Com efeito, esta revolução tem que acontecer. Uma revolução física e mental, a ser realizada pela sociedade organizada em grupos proletários e camponeses, para definir um novo pacto social, é única saída dessa dominação a fim de reconquistar nossa humanidade e dignidade e construir uma sociedade a partir dos nossos próprios concepções, crenças e valores.
Mas, falando de uma campanha de justificação desta ocupação – a ser chamada de campanha de intoxicação da opinião coletiva e tentativa de corrupção da inteligência – o que de bom poderíamos esperar de uma ocupação, que, na sua essência, é muito semelhante ao sistema colonial propriamente dito (é a mesma moeda com faces distintas)? O que poderíamos esperar de bom de uma ocupação que transformou o ser haitiano em um verdadeiro restavèk (subordinado, dominado, alienado, perplexo, desenvolvendo um complexo e um medo profundo da sua origem, cultura e historia)? Por fim, o que a ocupação americana poderia trazer de bom a um país que foi totalmente despojado da sua soberania, liberdade e cultura, princípios elementares e fundamentais da dignidade humana, a um povo cujo espírito foi trabalhado para odiar seu semelhante, a rejeitar sua religião, sua cultura, sua lei, sua pátria e sua nação?
Nada e absolutamente nada[8]!
A nosso ver, a única coisa, talvez de “bom”, a salientar de uma ocupação indigna e humilhante como esta, seria aprender dos erros que a provocaram e trabalhar para que eles nunca se repitam mais na historia nacional. É absurdo pensar poder triunfar no mal, na bestialidade e na vergonha! A ocupação americana foi um mal cujos somos, ao mesmo tempo, criadores, vítimas e curadores. Durante 100 anos temos gastado tempo, energia e saliva fazendo uma política apologética de uma ocupação que não deveria acontecer. Todavia, uma ótima oportunidade se oferece a nós hoje para rever isso, repensar e redefinir nosso destino, nossas maneiras de apreender o mal e os problemas a fim de manifestar nossa consciência de povo e romper, por uma revolução social radical, tanto com as velhas práticas imperialistas como com o escravagismo assalariado do tempo moderno. Colocada e entendida no seu momento histórico, a ocupação americana foi uma grande injustiça, o primeiro mal cometido contra o povo haitiano no século XX, da mesma maneira que o Código Negro de 1685, segundo André (2006) e Niort (2015), foi a maior absurdidade da modernidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, neste artigo, foi demonstrado como Santo Domingo se liberou do inferno colonial europeu para reconquistar seu belo nome dos Índios Ayiti. Ele tinha como objetivo de analisar a trajetória histórica do Haiti nas suas relações com os Estados Unidos na perspectiva de mostrar, primeiro, que essas relações foram caracterizadas por um relacionamento de força no qual o dominante sempre detém o monopólio de decisão sobre o dominado e faz tudo para lhe impor sua lei, que essas relações, em segundo lugar, trabalharam a enfraquecer mais todo o sistema haitiano visto que o país nasceu com dificuldades e debilidades até então insuperáveis. A ocupação de 1915 acabou de justificar essas debilidades, pois, na base do Tratado de 1864, antes da intervenção brutal dos soldados americanos no Haiti, as principais fontes de interesses dos Estados Unidos foram: o cais de Porto Príncipe; a companhia elétrica; a companhia dos caminhos de ferro; a planície de cul-de-sac; o caminho de ferro nacional e uma participação de 40% ao Banco Nacional do Haiti[9]. Haiti quis um reconhecimento oficial da sua independência pelos Estados Unidos para ser tratado com igual e defender livra e energicamente seus interesses. Infelizmente, ele se enganou, este reconhecimento não trouxe nada de tal. Poucos homens valiosos e corajosos, como Hannibal Price e Anténor Firmin, conseguiram, apesar de tudo, defender com dignidade os interesses haitianos no exterior. Porém, a diplomacia, como tudo mundo sabe, não se faz com a literatura, a historia, a poesia e as belas palavras, é sempre uma questão de relacionamento de força, de poder econômico, tecnológico, técnico e cultural. Desde seu nascimento, Haiti não conseguiu organizar uma diplomacia forte capaz de evitar que sua independência esteja economica e politicamente hipotecada. Certo, Haiti tem feito uma revolução contra a escravidão física, mas, até então, falta a revolução da escravidão mental, a mais importante para valorizar o ser humano, promover sua cultura e sua historia, caçar nele o complexo de inferioridade e transformar o ser haitiano em próprio mestre do seu destino.
BIBLIOGRAFIA SELETIVA
ANDRÉ, Castaldo. Codes noirs: De l´esclavage aux abolitions. Paris: Dalloz, 2006.
ARDOUIN, Beaubrun. Études sur l´Histoire d´Haiti. [S.I.: s.n.], [199-].
BOURDIEU, Pierre. La violence symbolique. In: BOURDIEU, Pierre. Réponses. Paris: Seuil, 1992. p. 116-149.
CASTOR, Suzy. La Ocupación Norte Americana de Haiti y sus consequências (1915-1934). México, 1971.
CAUNA, Jacques de. Haiti: l´Éternelle révolution: Histoire de sa décolonisation (1789-1804). Toulouse: Des Régionalisme, 2010.
ÉTIENNE, Pierre Sauveur. L´énigme haitienne: èchec de l´État moderne en Haiti. Montréal: Presses de l´université de Montréal, 2007.
FANON, Frantz. Les damnés de la terre. Paris: La Découverte, 1961.
_____________. Pour la révolution africaine: Écrits politiques. Paris: La Découverte, 2001.
FIRMIN, Anténor. De l´égalité des races humaines: Anthropologie positive. Québec: Mémoire d´encier, 2013.
LÉNINE, V. L´État et la révolution: La doctrine marxiste de l´État et les tâches du prolétariat dans la révolution. Moscou: Du progrès, 1967.
MADIOU, Thomas. Histoire d´Haiti. Port-au-Prince, v. 3, 1847-1848.
NIORT, Jean-Grançois. Le Code Noir: Les idées reçues sur un texte symbolique. Paris: Le cavalier bleu, 2015.
PRICE-MARS, Jean. Ainsi parla l´Oncle suivi de Révisiter l´Oncle. Québec: Mémoire d´encrier, 2009.
TURNIER, Alain. Les États Unis et le marché haitien. Washington, 1955.
VERGÈS, François. Abolir l´esclavage: Une utopie coloniale: Les ambiguités d´une politique humanitaire. Paris: Albin Michel, 2001.



[1] O povo colonialista será curado do seu racismo e da sua enfermidade espiritual se e somente se, realmente, ele aceita considerar a antiga possessão como uma nação absolutamente independente (Tradução nossa).

[2] Para ceder, estrategicamente, às pressões da França, a lei americana de 28 de fevereiro de 1806 proibiu, na teoria, toda relação comercial entre Estados Unidos e Haiti, porém, na prática, as relações comerciais clandestinas continuam e os contrabandos aumentam.
[3] Para ter mais informações sobre as principais importações do Haiti dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, e Holanda ver Turnier, p. 117-118.

[4] Para ter mais ideias ver Turnier, op. cit., p. 144 a seguir.
[5] Certidão de batismo da Ocupação Americana do Haiti
[6] Ver Sauveur Pierre Étienne (2005) para uma discussão mais aprofundada sobre este assunto.
[7] O mal, em qualquer sentido, se designa em si mesmo um mal e não pode produzir que efeitos nefastos e negativos. Porém, é possível, e mesmo imperativo apreender do mal para que o mesmo mal não se reproduza mais pela falta de memoria. Assim, dependentemente, da apreensão do mal, ele pode ser uma fatalidade ou um sinal para corrigir algo errado.
[8] Para ter mais conhecimento a respeito disso ver Suzy Castor. La Ocupación Norte Americana de Haiti y sus consequências (1915-1934). México, 1971; Sauveur Pierre Étienne. L´énigme haitienne: èchec de l´État moderne en Haiti. Montréal: Presses de l´université de Montréal, 2007; Alain Turnier. Les États Unis et le marché haitien. Washington, 1955.
[9] Interesse capital exclusivo dos Estados Unidos no Haiti


[*] Doutorando em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas. E-mail de contato: jeandefabien1982@yahoo.fr Blog: jeandefabien1426blogspot.com.br.

dimanche 20 septembre 2015

POUVOIR ET AMBITION DE POUVOIR EN HAITI: DÉMOCRATIE OU MALADIOCRATIE?

Sous le couvert de la démocratie, des libertés individuelles et des droits individuels, on peut se permettre n´importe quoi; n´importe qui peut se rêver d´être à la hauteur de diriger un pays. Mais, est-ce réellement la démocratie qui veut que quiconque puisse même penser à gouverner un pays? Diriger un pays n´est qu´un holocauste que seul un martyr peut accepter d´y être sacrifié, et que seuls les gens corrompus peuvent s´acharner d´y rester. Est-ce, par ailleurs, les droits individuels qui donnent le droit à un individu de vouloir diriger un pays? Ou est-ce au nom des libertés individuelles que je peux oser me dire être capable de gouverner un pays, peu importe la complexité et la profondeur de ses  problèmes voire le nombre de ses habitants et sa superficie? Dans cet article, nous n´avons aucune intention de discourir sur les droits et libertés individuels, encore moins de nous attarder sur la démocratie, mas il invite à réfléchir sur notre niveau de conscience humaine, d´un minimum de probité et d´honnêteté en nous posant la question si nous ne sommes atteints d´une maladiocratie au lieu d´une démocratie.

L´affaire d´État rete et démeure réserver aux hommes d´État, ceux-ci sont formés, travaillés et transformés dans des écoles où l´on enseigne de A à Z comment administrer l´État et cela prend du temps. Non seulement, il y a l´ecole institutionnelle dans le sens académique et scientifique du mot, mais il y a surtout l´école du terrain politique qui n´est autre que les expériences empiriques acquises et accrues pendant un labs de temps indéterminé et indeterminable. Cependant, en dépit de tous ces acquis, il se pourrait être révélé que vous n´êtes pas à la hauteur ou prêts de parvenir à certains postes dignitaires où vous seriez appelés à prendre de sérieuses décisions qui engagent des milliers de gens au nom desquels vous agissez. Ce, pour la simple et bonne raison que vous n´êtes pas encore revêtus d´une étoffe d´homme d´État. Donc, il y a toute une culture et triture d´homme d´État dont il faut faire montre au cours de sa carrière et de sa trajectoire avant d´intégrer l´État. Ainsi, un pays, je dis bien un pays, ne voit pas tomber du ciel ses hommes d´État. Leur vie ainsi que leurs actes passés sont publics en même temps qu´ils les poursuivent.

En effet, un homme d´État a une façon de parler, de manger, de se comporter où qu´il soit, de s´habiller, de marcher, de rire, enfin, le rôle de la machine qui produit les hommes d´État est de les transformer en un autre homme, car l´État ne peut être que seulement le boulot précieux des hommes d´État. Donc, après son passage à cette machine, il n´est plus le même, profane qu´´il fut, il est désormais un être sacré appartenant au monde sacré dirait Durkheim. Si telle est la démocratie qui nous inspire à vouloir s´ambitionner tant au pouvoir, pouquoi dans les pays développés on n´assiste pas aussi à cette ambition, cette envie et ce même engoûement de manière plus poussée que dans les pays pauvres, car c´est là où il y a de véritables richesse et fortune à amasser? Pourquoi dans les pays industrialisés et hautement développés on ne voit pas germer cette tentation de vouloir rester au pouvoir jusqu´à ce qu´on s´en fasse chasser? Or, c´est dans ces pays qu´il vaudrait mieux passer toute sa vie au pouvoir. Ou bien, il y a quelque chose qui ne va pas: est-ce parce qu´ils se disent civilisés et modernes, et nous barbares, sauvages et primitifs, qu´ils s´intéressent moins au pouvoir que nous autres? Ou est-ce parce qu´ils ne connaissent pas le goût du pouvoir?

Nous n´avons aucune réponse précise à ces questions, mais, une chose est certaine, c´est que ceux qui connaissent ce que c´est que réellement l´État, c´est quoi la démocratie, non seulement, réfléchissent des milliers de fois avant de s´y engager, mais encore, manifestent plus de volonté d´y accomplir une bonne besogne afin d´être des immortels que d´y rester. Car, aucune démocratie n´apprend aux citoyens de ces pays que quiconque peut mener une machine  aussi fragile, complexe et problématique qu´est l´État. Donc, il y a, d´une part, toute structure forte mise en place qui tue chez l´individu tout désir, toute idée et toute pensée précoce de faire de l´État quelque chose de privé, de personnel et d´amateur. D´autre part, dans les pays développés, il y a vraiment des choses, de grandes choses, des choses à la fois complexes et compliquées; difficiles et sérieuses à gérer dont le mécanisme même d´administration exige et impose automatiquement ce dynamisme étatique. De plus, c´est une machine composée d´hommes d´État qui se met en branle pour le faire fonctionner, en d´autres termes, dans les pays où les dossiers sont plus compexes et difficiles à travailler, les exigences faites aux hommes d´État sont de plus en plus lourdes de conséquences. Ainsi, la différence ne se trouve pas dans la sáparation entre primitif et civilisé, mais tout simplement dans un exercice de conscience, de probité et de honneteté sur ce que représente l´État et tout le dispositif qui le rend fonctionnel, gestionable et efficace. Mais, il faut que l´État existe en tant que tel pour que tout cela soit possible et pour parler de diriger un pays. Avons-nous, nous autres en Haiti, un État? Haiti est-elle un pays?

En parlant ainsi, je pensais qu´il existait un pays appelé Haiti, mais, malheureusement, elle n´existe pas en tant que pays, c´est un territoire peuplé d´être humains. Un coin de terre non dirigé ni controlé, où se multiplient des gens, oú des êtres humains vivent pêle mêle, car un pays c´est une organisation rationnelle tant en termes d´institutionalité et de gestion qu´en termes de structure et d´infrastructure. S´il n´existe pas en tant que pays, à plus forte raison de parler d´État, car le bon sens veut que le pays existe d´abord, qu´il soit gouvernable en soi-même par les siens, avant de parler d´un État qui est l´appareil miroitant le pays tant à l´échelle nationale qu´internationale. En outre, s´il n´y a ni pays ni État dans le cas d´Haiti, d´où vient alors cette envie de pouvoir et de vouloir diriger un pays?

Personne ne peut enlever à quiconque le droit d´aspirer à être un jour un homme d´État moyennant le respet des règles qu´une telle responsabilité impose. Par contre, ce n´est ni au nom des droits et libertés individuels ou de la démocratie qu´on peut - toute faiblesse et lacune mises de côté - oser penser être en mesure de diriger un pays. Il y a des rêves qui ne sont pas permis, on le sait bien, en outre, il y a également des droits qui ne sont que de pures illusions dans le vrai sens du terme dont un minimum de bon sens et de raison devrait aider à saisir pour ne pas se fourvoyer. Il y a, par ailleurs, des envies ou ambitions que l´on ne peut avoir sous peine de naufrager avec soi tout un peuple voire toute une génération. Je crois de tout coeur qu´il est permis de rêver des choses pour lesquelles on est, non seulement, prêt à accomplir, mais surtout, on a été préparé, formé, façonné et transformé, si non ce n´est pas un rêve, car le rêve, à mon sens, n´est qu´une réalité qui se prépare à être vécue. S´il ne s´agit pas d´un rêve, alors c´est une illusion, mais surtout, une fausse illusion. Ainsi, ce n´est ni au nom de la démocratie ni des droits et libertés individuelles que l´on s´intéresse tant au pouvoir en  Haiti, mais de préférence au nom de deux choses: la corruption et le fait qu´il n´y a absolument rien à gérer en Haiti, puisqu´elle n´est pas un pays à proprement parler, elle ne peut avoir de choses importantes et sérieuses à gérer. De ce fait, au lieu de la démocratie qui nous entoure, c´est plutôt la maladiocratie qui nous envahit.

En effet, la maladiocratie est un néologisme pour désigner la maladie qui nous surprend et nous porte à penser que n´importe qui peut diriger un pays, que n´importe qui peut être un homme d´État. C´est faux et archi faux! Les responsables de cette mentalité s´appellent les occidentaux suivis des occupants américains qui ont injecté dans notre cerveau que l´État n´est rien, donc tout le monde peut y avoir accès, avec à la main une démocratie et une modernité taillées à l´aune de notre culture abérante de peuple. Tandis que chez eux, ils savent pertinemment que, suivant la structure instaurée, n´importe qui ne peut même oser de rêver de devenir un homme d´État. Ils font et feront tout pour tuer ce rêve même dès sa conception. Cette maladiocratie qui nous transforme tous en sauveur, messie ou leader charismatique, nous enlève toute capacité de réflexion et d´appréhension de l´essence de ce que c´est que l´État en réalité. Fort heureusement, cette tendance nous est restrictive et limitative, alors elle ne contaminera pas les autres peuples plus ou moins sensés que nous qui voient les choses dans une autre vision: une vision rationnelle. En Haiti, il n´y a que des maladiocrates, c´est-à-dire des obsedés de pouvoir, des gens en qui l´ambition du pouvoir enlève toute raison, probité, honnêteté et éthique, des gens que la corruption immunise et déshumanise.

En parlant ainsi d´une maladiocratie, c´est que quelque part il y a eu une déformation à la base de ce que nous avons reçu comme démocratie. En réalité, aucune démocratie ne nous a été transmise, mais plutôt un lavage de cerveau dont nous sommes également responsables par le fait même que pendant des années nous nous sommes montrés consentants à de telles idioties. De préférence, il nous a été leguée une maladiocratie produite dans les laboratoires occidentaux, elle n´y était jamais essayée, mais inventée spécifiquement et uniquement pour des peuples pauvres comme le nôtre et expérimentée en Afrique, en Asie et en Haiti. Si c´était la vraie démocratie telle qu´elle existe, s´applique et fonctionne chez eux, il n´y aurait jamais tant d´archarnement pour le pouvoir et nous serions de vrais démocrates comme eux.

Nous sommes malades du pouvoir bien que complètement et profondément ignorants de ce que nous pouvons et devons faire avec: nous en abusons tellement qu´il nous rend psichopathes et schizophrènes, nous prive de toute sensibilité à l´égard des autres, nous aveugle de leur douleur et nous rend sourds à leur cri. La corruption et le fait que rien n´est gouverné sur ce coin de terre appelé Haiti engendre que nous nous complaisons dans cette maladiocratie. Il est absolument faux et, à la rigueur même mauvais, de penser - même si on n´aspire pas à l´être - que tout le monde peut être homme d´État. Ce qui fait le fondement d´une société c´est d´abord le respect du rôle que chacun s´assigne (tout le monde ne peut pas faire la même chose à la fois, autrement dit, tout le monde ne peut être médecin, avocat, sociologue, ingénieur, agronome et j´en pense, sinon ce serait tout sauf une société proprement dite), la répartition des tâches et l´accomplissement de telle tâche assignée. 

Une société c´est avant tout un arc-en-ciel d´interactions inter-intra-extra individuelles et d´institutions chargées de les structurer et les institutionaliser. Il est dit dans la, Bible: ''Laissez les morts ensevélir leurs morts'', cela revient  à dire clairement que les rôles ne peuvent se mélanger. Dans les sociétés magiques dites primitives, la plus forte interdiction était celle de mélange, en d´autres termes, la chose sacrée ne doit sous aucun prétexte se mélanger avec la chose profane ni être déposée au même endroit qu´elle, de plus, les habits de la vie ordinaire doivent se séparer de ceux de la vie sacrée, qui, elle, est une vie considérée comme extraordinaire et extraquotidienne. Ainsi, on court de grands dangers quand on mélange tout, quand on pense que n´importe qui peut se retrouver à telle position, avoir tel statut ou encore que telle fonction revient à tous sous prétexte que nous voulons faire une démocratie en respectant ses règles. Voilà où nous en sommes aujourd´hui avec une maladiocratie qui enchaine notre intelligence. Car, elle n´est pas seulement le vice du pouvoir, mais c´est aussi une désorganisation de notre cerveau, une désarticulation de notre intellect de ce qu´est effectivement la démocratie. Tel en est l´effet de toute maladie aussi néfaste que la maldiocratie dont nous souffrons en Haiti.

En résumé, il y a quelque chose en Haiti qui nous inculque la jalousie et l´obsession du pouvoir, ce n´est pas la démocratie, car là où elle s´applique dans toute sa cruditité, elle enseigne la bonne gestion du pouvoir, implique la responsabilité et le devoir de se mettre au service des autres. Avoir le pouvoir c´est pouvoir pourvoir aux besoins sociaux des plus nécessiteux, mais non pas de les agresser moralement, psychologiquement et même physiquement en l´abusant. Voilà pourquoi, en Haiti on s´y attache tant, c´est une maladie obsessionnelle qui n´est profitable qu´aux maladiocrates. Sur ce, il reste à dire qu´entre le pouvoir et l´ambition en Haiti, il y a le règne de la maladiocratie et non de la démocratie.

Jean FABIEN
Doctorant en Sociologie

CAMPINAS, 20/09/2015

samedi 29 août 2015

UN RÉVEIL COLLECTIF S´ANNONCE-T-IL DANS LA SOCIÉTÉ HAITIENNE?

     Si, bien avant ou à la veille de cette journée du 9 août 2015, le peuple était invité à agir tel qu´il l´a fait, cet appel ferait, certainement, l´objet d´une investigation et d´une accusation pour ce qu´on se plaît tout le temps et fort heureusement à appeler en Haiti :''Incitation à la révolte''. Telle est la qualification la plus simpliste. Peu importe les raisons qui ont poussé le peuple à afficher de tel comportement, l´ont motivé à bouder cette convocation, le fait est qu´il a esquivé un piège qui lui était tendu. Cette attitude ne saurait être innocente ou interprétée comme naive. Il s´agit, de notre humble point de vue, d´un reveil de la conscience collective, c´est-à-dire, la société étant constiutée de consciences individuelles s´ébranle. Il ne fait aucun doute que cette situation nous invite à comprendre qu´un reveil social s´annonce au sein de la société haitienne et que les masses populaires commencent à comprendre certaines choses. Cela suppose aussi qu´avec un minimum d´éducation, le peuple ne peut pas faire n´importe quoi; il n´agit pas n´importe comment et il ne choisit pas n´importe qui, dans le cadre des élections dignes de ce mot, pour le placer dans des organes décisionnels chargés de tracer son avenir. Il n´est pas besoin de revenir sur ce qui s´était passé en Haiti le dimanche 9 août 2015. Cela ne vaut pas la peine! Toutefois, il est important de partir du constat de cette journée pour essayer au moins d´interpréter cette attiude de refus du peuple de continuer à être les marrionnettes d´un appareil d´oppresion et de domination. Nous sommes entrain de constater que l´intelligence de la collectivité s´ouvre, que la mentalité collective commence à se libérer des scories d´hier. La question que se pose et à laquelle tentera de répondre cet article est celle de poser en quoi et comment l´attitude affichée par le peuple lors de la journée du 9 août 2015 est susceptible d´être comprise comme un réveil collectif entrain de se produire au sein de la société haitienne? 

     D´abord l´acte de voter suppose obligatoirement l´existence d´une élection, et le peuple peut aller voter si et seulement s´il y a une ou des éléctions. Or quand est-ce qu´il faut parler d´élection?

     Acte le plus hautemente souverain, l´élection constitue, d´un côté, le moment le plus solennellement tant attendu par un peuple pour placer, au moyen de son bulletin de vote, son mot dans les affaires de la cité, l´activité démocratique par excellence, en dépit de tout, financée exclusivement par lui, de l´autre. Donc, l´élection c´est l´espace manifeste où la souveraineté du peuple se renforce en s´exprimant, elle marque, pour ainsi dire, la capacité intelligente du peuple de choisir et traduit sa volonté la plus sublime de peuple d´élire librement, sans d´aucunes contrainte, influence et interférence d´un quelconque secteur, ses propres gouvernants. Or, comment peut-il y avoir ou peut-on parler honnêtement et rationnellement d´élection dans une Haiti occupée et dominée, dans une Haiti non souveraine, dans une Haiti qui a perdu toutes ses valeurs éthiques et morales, enfin, dans une Haiti dont l´indépendance n´est plus? Même du point de vue éthique et moral, ça ne tient pas. Car, dès l´instant où les appareils institutionnels d´un pays, en particulier, celui chargé d´organiser les élections à proprement parler, ne sont pas controlés par de vrais nationaux et républicains, il est complètement impossible de parler de dignité et de respect et, dans le cas du processus de choix des futurs dirigeants, d´employer le terme élection dans le vrai sens du mot et, pir encore, d´oser de faire un vilain procès d´intention à cette pauvre population en déclarant que c´est elle qui a voté ou choisi ceux qui gouverneront contre lui.

     Le peuple n´est pas, cependant, idiot pour choisir ses propres fossoyeurs. Il ne peut pas se foutre le doigt dans son propre oeil. En Haiti, il est clair de comprendre, et que cela soit connu de tous, qu´il n´y a pas de peuple qui élit, ce sont ceux qui ont le controle des appareils politique, financier et économique du pays qui décident. Élection, mot de plus en plus galvaudé en Haiti, n´est qu´une farce, un déguisement. De plus, il ne peut pas y avoir d´élection parce que, en fait, le peuple, quoiqu´il existe mais peu organisé et solidaire, ne vote pas, donc l´expression populaire ça n´existe pas dans notre Haiti chérie. Ce que l´on organise en Haiti sous le nom d´élection se fait contre le peuple avec la complicité des gens auxquels Haiti n´interesse guère et la livrent à une dépendance internationale. Vu cette dépendance économique et financière, et cette domination étrangère de nos institutions qui causent un problème de légitimité majeur aux bénéficiaires, il est impossible d´établir que c´est le peuple qui  élit réellement un tel ou un tel, que son bulletin de vote, qui, dans un vrai État de droit, est son seul et unique arme démocratique, a été effectivement respecté. Dans un pareil cas, les résultats seront par conséquent toute autre chose sauf l´expression de la volonté populaire. 

     En conséquence, il se pose, dans tous les compartiments socio-structurels d´Haiti, un problème d´éthique, de crédibilité et de confiance. En premier lieu, les dirigeants n´ont pas assez de courage de dire la vérité au peuple en regardant cette triste réalité en face. Ils préfèrent la lui cacher, la colorer momentanément, l´etouffer pour qu´elle ne s´éclate au lieu de la nommer et travailler à la faire disparaître, or rien ne peut l´en empêcher. L´éthique, étant l´une des grandes valeurs humaines au moyen de laquelle l´individu est capable d´agir, d´influencer et de changer son environnement, est une manière d´être et de se conduire rationnellement dans la société, voilà pourquoi l´éthique protestante, vu sa vision rationnelle du monde et des rapports sociaux et économiques, a été l´un des éléments clés dans le développement du capitalisme ocidental. Il est par conséquent irrationnel de penser que cet organe dominant étranger qui detient le monopole économique d´Haiti entre ses mains se laisserait prendre pour des cons une seule seconde. Il fera par contre tout pour que ce soit sa volonté qui s´impose. Il est également irrationnel, après avoir induit le peuple en erreur et l´avoir malhonnêtement et sciemment menti, de croire que ce même organe prendra au serieux vos décisions ou vos actes, vous, dirigeants aveugles.

     En second lieu, le peuple, étant vacciné de ces mensonges, commence à se réveiller. À travers cette réaction du 9 août 2015, il est important d´entrevoir une bonne leçon d´intelligence et de lucidité du peuple à tous ceux qui croient qu´il est bête: Il ne fait plus confiance à ce système - vu qu´il refuse d´y entrer - voire aux soi-disant gouvernants, puisque, en premier lieu, il boude leur appel - et devrait continuer à le faire -, en l´occurence celui du CEP  relatif à ce dimanche 9 août 2015. Car, en clair, appeler le peuple au vote n´est que pure démagogie, la démagogie électorale, qui n´est pas productive pour le peuple haitien et ne l´arrange pas. En troisième lieu, cela traduit sa fuite des discours idéologiques insipides et creux, des appels politiques et patriotiques homo-fantaisistes, et se met courageusement à la recherche d´une nouvelle alternative de révolution sociale. Il se détermine à s´éloigner de plus en plus de ces imposteurs de peur qu´ils n´influencent cette nouvelle phase plus ou moins décisive à laquelle il voudrait s´engager; mais un peu rétissant et méfiant à soi-même parce qu´il n´est pas encore sûr de cette nouvelle attitude. Mais, la formation de ces nouvelles consciences collectives qui surgissent mérite d´aller plus loin et se maintenir jusqu´à ce que ces institutions, qui n´inspirent pas confiance y compris ceux qui les composent, dont les actes souffrent de credibilité et de légitimité, soient effacés et d´autres qui seront l´oeuvre de ce nouveaux réveil collectif les remplacent. Donc, tout ceci signifie qu´Haiti n´existe pas encore.

     Il reste qu´en novembre 2015, il se passera quelque chose dans le pays et le peuple doit se montrer encore plus intelligent, lucide, mais surtout véhatif et prudent, car le boudement ne suffit pas, il faut d´autres actions plus concrêtes, pragmatiques et fortes. Heureusement, l´intelligence est quelque chose qui s´acquiert également par l´expérience, mis à part la connaissance. De ce fait, le peuple doit se servir de toutes ses gammes d´expérience qu´il a acquises au cours des ans pour lutter, au moyen des veillées continues, contre ceux-là: étrangers, faux nationaux et républicains, patriotes colorés et déguisés, haitiens-étrangers pour échapper à ce qui va se produire dans les prochains mois pour ne pas se faire complice de son propre malheur.  
     
     D´autre part, le moment doit venir pour qu´un choix définitif soit fait: soit que la société lutte et se batte durement et continuellement pour reconquérir sa souveraineté et sa liberté sur le plan social, national, culturel, politique et économique en attaquant le système vers le dehors et le haut; soit qu´elle accepte, cette fois de façon officielle, aux yeux du monde entier, qu´elle soit livrée aux étrangers, ainsi, nous saurons si nous allons vers un mieux être ou vers l´abîme. En d´autres termes, dans cette domination étrangère douce, camoufflée et tranquile, nous n´avons aucun destin, aucune issue. Même un peuple opprimé a quand bien même un destin, du moins celui de l´oppression et de la répression continues, voire un peuple libre, souverain et indépendant, son destin consiste à améliorer de plus en plus son système social, éducatif, culturel, politique, financier et économique afin que les individus puissent vivre dans la liberté, le respect de leurs droits, le prestige et l´honnêteté.

     En somme, le voeux pieux qui se peut être formulé est celui d´assister, de la part du peuple haitien, à une augmentation de cette compréhension de ce jeu qu´il commence à démarquer, à une  réponse, vis-à-vis des prochaines mascarades électorales qui se préparent, beaucoup plus sévère, forte, ferme, dure, prononcée et totale que celle du 9 août, à l´image du peuple révolutionnaire qui a fait le 18 novembre 1803. Le peuple commence à saisir le sens et le fondement de ce petit jeu mafieux électoraliste et démocratiste. De ce fait, sa réponse mérite d´englober et d´atteindre toutes les forces individuelles et collectives de la société pour dire d´une seule et même voix révoltante et révolutionnaire que de cette domination douce de ce genre, nous n´en voulons plus jamais. Nous en avons marre! Car, la souveraineté haitienne ne sera reconquise que dans la mesure où la société commence d´abord par se libérer de ces démagogies électorales qui n´apportent que misères, frustration, repression, arrogance, insultes, mépris, propos obscènes; par se débarasser des idéologismes et des démocratismes; enfin, par s´abstenir jusqu´au dernier soupir de ces gâchis qu´on dénomme malheureusement élections, car, il est faux que son destin s´y retrouve. Peut-être, est-il trop tôt de l´établir, mais en analysant cette réaction, il y a quand bien même derrière elle une intelligence collective.

Jean FABIEN
Doctorant en Sociologie (Unicamp)

CAMPINAS, 29/08/2015