Resumo
Este
trabalho pretende ser uma modesta contribuição ao debate sociológico sobre a
felicidade que hoje não é mais um assunto tabu. Um assunto que se discute em
diversos campos de estudo: filosofia, psicologia, economia, sociologia até musicologia.
Porém, nenhuma dessas ciências detém o monopólio de definição da felicidade.
Com efeito, a felicidade se tornou um problema preocupante no campo da sociologia
a partir do século XIX. Como sempre, a sociologia se rompe com as tradições
filosóficas e psicológicas que veem na felicidade uma iniciativa autônoma,
individual e até espiritual do indivíduo. Ela se posiciona diferentemente e
propõe de tratar a felicidade como o sentimento social altamente compartilhado
entre os indivíduos. Desde então, várias perguntas surgiram nas sociedades
modernas entre as quais sublinhamos aqui duas que nos parecem mais pertinentes:
Como a sociologia vê a felicidade? É possível falar de uma sociologia da
felicidade? Tal é o objeto deste trabalho que objetiva provocar uma reflexão sociológica
em torno desse tema.
Introdução
A
felicidade é, sem dúvida, um querer de tudo mundo. As pesquisas dos cientistas
sociais, filósofos, psicólogos ou economistas enfatizam que ela é um estado mental
e físico muito desejado por cada ser humano além da sua situação social e
econômica, e, também, apesar de as conjunturas políticas, pelas quais a
sociedade poderia estar passando, serem difíceis. Ou seja, não existe um único
ser humano nessa face da terra que não gostaria de ser feliz e que não estaria
à busca da felicidade, independentemente da forma pela qual será alcançada:
Individual ou coletiva. Além de ser um desejo, ser feliz é também um direito inalienável e imprescritível
reconhecido a todo ser humano de buscar e criar, por seus próprios meios, esse bem estar subjetivo. Segundo o último
relatório sobre a felicidade, a ONU recomenda a cada Estado de criar condições
políticas e sociais a fim de garantir esse direito a cada cidadão escrevendo-o
no plano de políticas públicas. Ademais, desde o séculos XVIII, XIX e XX, a
noção do bem estar está inscrita nas
legislações tanto nacionais, por exemplo, a Declaração de Independência de
Tomás Jefferson de 1776, como internacionais, neste caso a DUDH (artigos XXV
alínea 1º e XXIX alínea 2º). Então, hoje em dia, a noção do bem estar, que inclui a felicidade, se
torna um problema de investigação científica e de grande interesse social,
psicológico e político.
De fato, na perspectiva
sociológica, a felicidade, ao se fundar sobre as normas sociais e a vida social
e coletiva, deve entender-se como um objetivo a ser, social e coletivamente, construído
e concretizado pelos atores sociais membros de uma mesma sociedade, em outras
palavras, a felicidade construída na individualidade por cada indivíduo segundo
seus próprios métodos e esforços ignorando os outros agentes sociais, é mais
frágil e parcial do que aquela a ser coletivamente construída, por que ela é
considerada como isolada do resto do corpo social. A ambição deste trabalho é suscitar
uma reflexão e uma discussão em torno do processo da construção da felicidade
como problema sociológico tentando mostrar que ser feliz não é uma questão simples e não se reduz unicamente aos
desejos individualmente satisfeitos, mas é um problema social complexo por que
se funda nas relações sociais e se relaciona com múltiplos fatores internos e
externos que podem ser regrupados sob uma dupla terminologia: Individual (ou
subjetiva) e social (ou objetiva). O que significa, portanto, que são elementos
internos e externos, combinados juntos, que são capazes de causar tanto a
felicidade quanto a infelicidade do ser humano. Dito de outra forma, a
conquista da felicidade depende, de um lado, da própria iniciativa individual
da pessoa, do estado da sociedade do outro. Se for assim, a questão, então, é
saber o que é a felicidade? Qual melhor forma de alcançar uma real felicidade,
individual ou coletiva? Assim, o trabalho retoma a metodologia que foi
discutida no trabalho de Ribeiro e no World Happiness Report sobre o método de
abordar a felicidade. Enquanto a segunda parte se articula em torno de uma
tentativa de definição do conceito de felicidade, a terceira discute sua visão
psicológica. Por fim, pretendemos concluir este trabalho provocando uma
discussão e uma reflexão sobre a construção da felicidade como problema sociológico.
1. Metodologia
para abordar a felicidade
Até
agora, os autores que se preocupam pelo assunto de felicidade já têm propondo
duas metodologias interessantes que permitem analisar e mensurar o grau da
felicidade das populações. Trata-se, em primeiro lugar, da metodologia
objetiva, ou seja, a que quer trabalhar com os elementos exteriores como coisas, no sentido dukheimiano, e que
prefere analisar e olhar os diferentes aspectos do fenômeno pelo lado social,
isto é, aspectos de fora suscetíveis provocar a felicidade assim como a
infelicidade das pessoas como, por exemplo, emprego/desemprego; amizade/isolamento;
casamento/celibato etc. Com essa metodologia corremos, no entanto, o risco de
deixar fora ou menosprezar o sentimento pessoal do indivíduo e de cair numa
objetivização exagerada.
Em
segundo lugar, existe a metodologia subjetiva. Esta é mais difícil por que quer
partir das opiniões das pessoas sobre sua própria condição de vida que levam
cotidianamente perguntando-lhes se elas se sentem satisfeitas com esta vida
como o todo (WHR, 2013; 2015). O problema dessa metodologia é que ela é
perigosa no sentido de que não tem instrumento e matéria suficientes para
escapar a um egoísmo e egocentrismo do indivíduo. Do outro lado, ela é
suscetível tender para um culto da personalidade ao invés de abordar o problema
de maneira científica e objetiva. Um outro problema que suscita esta
metodologia é que ela é autenticamente relativa e comparativa no sentido de que
a felicidade do indivíduo se define em relação não apenas com a qualidade da
sua própria condição de vida social ou econômica, mas sobretudo comparando-a
com as condições de vida das outras pessoas. A partir daí, vem a ideia segundo
a qual a felicidade se funda na desigualdade (Easterlin, 1973 apud Ribeiro, p. 3-4).
Mas, existe uma terceira maneira ainda mais complexa de medir a felicidade, é a chamada por Kahneman (2006) de experience sampling measures, que consiste em seguir, passo a passo, cada momento da vida do indivíduo para determinar o no qual ele já se sentiu e se sente mais satisfeito (Kahneman, 2006 apud Ribeiro, p. 5). Além da sua complexidade, achamos que seria uma metodologia mais evidente para analisar e mensurar concretamente a felicidade do ponto de vista subjetivo por que ela estabelece um contato direto com os indivíduos. Nesse sentido, a felicidade varia em função do ambiente social, cultural ou familial no qual se encontra o indivíduo e, ao mesmo tempo, evolui segundo sua apreciação de cada experiência vital. Mas, a dificuldade dessa metodologia é que ela trabalha com o específico enquanto a ciência se interessa pelo geral. Portanto, cientificamente falando, é difícil sustentar uma tal metodologia. Em suma, cada das metodologias sugeridas tem sua força e fraqueza; sua vantagem e desvantagem.
Mas, existe uma terceira maneira ainda mais complexa de medir a felicidade, é a chamada por Kahneman (2006) de experience sampling measures, que consiste em seguir, passo a passo, cada momento da vida do indivíduo para determinar o no qual ele já se sentiu e se sente mais satisfeito (Kahneman, 2006 apud Ribeiro, p. 5). Além da sua complexidade, achamos que seria uma metodologia mais evidente para analisar e mensurar concretamente a felicidade do ponto de vista subjetivo por que ela estabelece um contato direto com os indivíduos. Nesse sentido, a felicidade varia em função do ambiente social, cultural ou familial no qual se encontra o indivíduo e, ao mesmo tempo, evolui segundo sua apreciação de cada experiência vital. Mas, a dificuldade dessa metodologia é que ela trabalha com o específico enquanto a ciência se interessa pelo geral. Portanto, cientificamente falando, é difícil sustentar uma tal metodologia. Em suma, cada das metodologias sugeridas tem sua força e fraqueza; sua vantagem e desvantagem.
No
âmbito deste trabalho, é difícil optar pelas duas últimas metodologias que
suscitam um problema de objetividade crucial, pois, não apenas se fundam na
apreciação subjetiva dos indivíduos da felicidade, tal apreciação é muito
instável, mas sobretudo necessitariam de um estudo empirica e estatisticamente
bem organizado e de entrevistas estruturadas ou semi-estruturadas realizadas
com aquelas pessoas de quem pretendemos investigar a felicidade. Ora, não
dispomos, no momento de escrever este trabalho, desses dados estatísticos e
empíricos relevantes. Portanto, nesse caso, apesar dos ricos que podemos correr
com a metodologia objetiva (Ribeiro, [200-?]), achamos que ela é a mais cientificamente apropriada
para abordar o tema de felicidade. Ela se funda, ademais, numa abordagem
teórica e leva em conta os parâmetros externos e objetivos concebidos na
sociedade que podem levar os indivíduos a ser felizes. Na nossa visão, as
variáveis externas e objetivas se referem ao social por que existem fora da
vontade individual e se escrevem num contexto social e político determinado.
Isso traduz também o querer de nos afastar das características subjetivas
elaboradas pela psicologia positiva na análise da felicidade (Niven, 2001).
Assim,
as variáveis externas que enviam um sinal do funcionamento das instituições sociais
ou da sociedade em geral, chamarão mais nossa atenção no âmbito deste trabalho.
A ideia é investigar como a sociedade participa na construção da felicidade dos
seus membros sem, no entanto, ignorar a liberdade, a capacidade e a vontade que
cada um tem de alcançar, a partir das suas próprias estratégias, sua felicidade.
Para isso, serviremos dos estudos teóricos já realizados nesse campo acerca da
dimensão objetiva. A metodologia uma vez escolhida, vamos tentar, nos
parágrafos seguintes, retomar algumas definições da felicidade, discutir a
teoria psicológica da felicidade e provocar uma reflexão em torno da abordagem
sociológica desse tema.
2. O que devemos entender pelo
conceito de felicidade?
2.1.Dificuldade
de definir a felicidade
Embora
nossa intenção aqui neste trabalho não seja fazer uma historicidade do conceito
de felicidade, é importante sublinhar, no entanto, que essa noção já tinha
chamado muito a atenção dos filósofos gregos começando por Sócrates e Platão
até os pensadores modernos do século XVIII lembrando que a virtude, a ética, a
educação e a religiosidade foram e permanecem ainda os elementos fortes na
busca da felicidade (Oishi, [2000?]; WHR[1],
2013). Uma das maiores dificuldades encontrada, ao longo do tempo, pelos
filósofos, historiadores, psicólogos, economistas e sociólogos, que teorizaram
sobre a problemática da felicidade, é a de encontrar uma definição consensual e
conceptual a ela. Isso significa que, historicamente, o conceito de felicidade
é difícil ser definido.
Esta
dificuldade talvez possa ser explicada, primeiro, pela variedade e
multiplicidade de fatores com os quais se relaciona a felicidade (ver WHR,
2013; Russell, 2005), segundo, pela confusão linguística na origem entre os
conceitos de bem estar subjetivo
(Subjetive Well-being SWB) e de felicidade, a ponto que hoje o termo de bem estar subjetivo[2]
é o mais apropriado e usado nos estudos científicos por que o termo de felicidade é muito problemático e
ambíguo (Oishi, 2000; Kahneman e
Krueger, 2006; Bartram, 2011), terceiro, pelo fato de que ela está submetida
não somente à satisfação pessoal e subjetiva do indivíduo, como também se escreve numa dinâmica relacional, ou seja, é relacionada
com as condições de vida dos outros indivíduos e com a situação sócio-política.
Em outras palavras, neste último aspecto, a maioria dos autores concorda,
apesar das divergências, sobre o fato de que a felicidade tem uma dimensão
subjetiva caracterizada pelos fatores internos e uma dimensão objetiva que
depende dos fatores externos, entre os quais existem uma correlação e uma
dependência muito fortes (Oishi, 2000; Bartram, 2011). Todavia, apesar dessas
dificuldades, isso não impede que possamos retomar algumas definições sugeridas
a essa noção.
2.2.Proposta
de definição da felicidade
A
felicidade é um adquirido, ninguém nasce feliz, portanto, a felicidade não é
inata (Niven, 2001, p. 5). Esta aquisição da felicidade se relaciona, desde o
início, com um conjunto de variáveis indefinido: fortuna, riqueza,
religiosidade, valores, símbolos, música, sorte, virtude, ética etc., e se realiza
com certeza num ambiente social e cultural. Na sua etimologia grega, a palavra
de felicidade, que se traduz por eudaimonia,
onde o eu é (bom) e daimon significa (deus, espírito,
demônio, etc.), podemos constatar uma combinação entre sorte e deus, por isso,
McMahon (2006) citado por Oishi tem propondo definir a felicidade da maneira seguinte:
"Happiness is what happens to us, and over that we have no control"
(Oishi, 2000, p. 5). Em outras palavras, ser feliz, nesse sentido, seria ter
sorte: Os mais felizes seriam, por conseguinte, aqueles que tiveram sorte de
encontrar deus ou um ser espiritual. Santo Tomás de Aquino foi um dos filósofos
cristãos a ver na fé religiosa o caminho da felicidade, ou seja, tanto o ser
humano se aproxima cada vez mais de Deus e pratica a caridade quanto será mais feliz.
Retomando o pensamento do autor, Oishi sustenta:
In the 13th
century, however, St. Thomas Aquinas clarified the role of human effort in the
process of eudemonia, which he conceived as becoming closer to God.
Aquinas claimed that partial happiness can be achieved in this life via “the
‘theological virtues’ of charity, hope, and faith
(Ibid., p. 7).
Isso
que dizer que, desde a origem, uma certa relação intima se teria desenvolvido entre
religião e felicidade, assim, a religião se tornaria uma variável analítica
muito interessante para abordar a felicidade. Mas, trata-se da religião como fé
espiritual e atividade contemplativa ou como grupo socialmente constituído no
âmbito da solidariedade social e da coesão social? Toda a dificuldade está aí.
De fato, sem querer entrar no detalhe desse tema, dentre as diferentes atividades
humanas que podem produzir a felicidade, a religião desempenha um papel relevante,
embora, até este momento, a felicidade que seria o produto da crença religiosa seja
estreitamente espiritual, contemplativa e se encaixa numa ideal segundo Russell
(2005) e Angelita (2008). Ademais, ainda não é cientificamente possível provar
o grau, o peso e o lugar reais da religião – seja como fé espiritual ou como
estrutura de coesão e de solidariedade social – na felicidade dos indivíduos.
No entanto, não
seria surpreendente se um ser religioso se declarasse mais feliz do que um ateu
numa sociedade como os Estados Unidos onde a religião é tão omnipresente e ser
ateu permanece um tabu (Hoyeau, 2015, p. 1-3). O inverso é possível e
racionalmente válido, isto é, os ateus se engajam cada vez mais nos movimentos
ambientalistas e ecológicos que constituem para eles uma fonte de felicidade. Também,
não há dúvida de que a moral religiosa, apesar de tudo, alimenta essa felicidade
na vida dos crentes enquanto, do mesmo modo, os ateus buscam sua felicidade em
outras fontes da moral. Com efeito, desde As
formas elementares da vida religiosa de Durkheim (1912) e A Ética protestante de Weber (1904-1905), a religião como
fenômeno social e a ética religiosa como valor participam fortemente do sucesso
social dos indivíduos. Se Durkheim se interessou à moral religiosa, Weber
(1904-1905), por sua vez, tem analisado a capacidade da ética protestante de
garantir aos protestantes a felicidade na realização do capital em comparação
aos católicos que sempre tinham uma atitude hostil com o dinheiro. Portanto, é óbvio
que exista uma relação entre religião e bem
estar. Mas, essa evidência ainda não chega a convencer o pensamento
científico de que maneira e em que sentido a religião seria objetivamente fonte
da felicidade para os indivíduos.
Do
ponto de vista dos economistas, a felicidade se relaciona com a renda e os bens
materiais na medida em que, de um lado, o dinheiro seria tudo para alcançar a
felicidade, nesse sentido, os ricos são sempre mais felizes que os pobres[3], a
felicidade cresce simultaneamente com o PIB per capita, do outro. Em outras
palavras, ser feliz é ter mais possibilidades econômicas de comprar bens
materiais e satisfazer seus desejos vivendo bem. Desde a antiguidade até o
tempo moderno, essa ideologia materialista de que a felicidade se relaciona à
fortuna e à riqueza sempre foi defendida (Easterlin, 2002; Lane, 2000 apud Ribeiro, [2000?]). Isso é,
certamente, um fato, porém, não traduz a ele só o grau da felicidade por que
existem outros elementos da vida, que não são necessariamente bens econômicos,
que produzem a felicidade.
Um dos grandes desejos expressados pela ONU tanto no
segundo relatório de 2013 como no último saído em 2015 sobre a felicidade, é o
de ver que os Estados finalmente façam da felicidade e do bem estar subjetivo um dos seus objetivos políticos inscritos nas
políticas públicas e, a este efeito, o incluem claramente no seu plano de
desenvolvimento social e econômico; trabalham ao seu alcance e criam atividades
adequadas para que esse ideal seja efetivo. Com efeito, se no relatório de
2013, a definição onusiana da felicidade se escreveu numa aspiração do ser
humano e num progresso social (WHR, 2103, p. 3), neste último relatório de 2015,
ela enfatiza mais o aspecto político definindo a felicidade da maneira
seguinte: “Happiness is increasingly considered a proper measure of social
progress and a goal of public policy” (WHP, 2015, p. 3). Portanto, nesta
definição a ONU faz da felicidade um objetivo altamente político e social que
todo pais deve se esforçar a alcançar. Citado por Corbi e Menezes-Filho,
Veenhoven (1997) entende por felicidade a avaliação mais ou menos global que
uma pessoa faz da qualidade da sua vida. Então, para o autor, na análise da felicidade
devemos levar em contar a vida da pessoa como um tudo, e não alguns aspectos desta
que suscitariam a felicidade e os que não o seriam (Veenhoven, 1997 apud Corbi e Menezes-Filho, [2012?], p.
1). Aqui, tem, de um lado, a confusão entre bem
estar subjetivo e felicidade a
esclarecer, a maneira de medir a felicidade a sublinhar, do outro.
2.3.Felicidade
ou o bem estar subjetivo?
O
tema de felicidade é ora confundido com o de bem estar subjetivo ora usado como sinônimo deste. Há, então, entre
esses dois temas, uma certa nuance a levantar. Com efeito, o tema de bem estar subjetivo, que compõe três
elementos: avaliação da vida, sentimento positivo e sentimento negativo, foi
proposto por vários autores entre os quais Diener, Oishi, Easterlin, e adotado
pela OECD[4] no
seu relatório de 2013 onde cada um desses elementos foi cuidadosamente
investigado e coletado. Para estes autores, a felicidade se define como um dos
componentes do bem estar subjetivo,
ou seja, ele, o bem estar subjetivo,
seria a reunião de um conjunto de elementos diversos que define a qualidade de
vida do ser humano, portanto, não seria um fim em si, mas um estado que se
adquire no meio, se desenvolve e se melhora progressivamente. Assim, o tema de bem estar subjetivo é mais abrangente e
amplo do que a felicidade, que, enquanto um elemento desse conjunto mais
complexo, é chamada a interagir com os
elementos externos e objetivos oriundos do ambiente social e cultural. Nos WHR,
os dois temas são usados às vezes de maneira separada e a felicidade se define como
um estado do bem estar subjetivo, um
dos seus componentes, nesse sentido, ser
feliz não traduz literalmente ter um bem
estar, às vezes como sinônimos, então, a felicidade do indivíduo é também o
seu bem estar (WHR, 2012, 2103, 2105).
Todavia, além desse dilema linguístico e terminológico, é difícil falar do bem estar subjetivo fora do conceito de
felicidade e vice versa, pois, os dois temas podem ser considerados
intercambiáveis, sinônimos e são usados tanto no WHR como nas outras pesquisas
qualitativas e quantitativas para tratar da qualidade de vida das pessoas.
2.4.Como
a felicidade se mede?
Se
no passado, ser feliz é se atribuir
uma filosofia de vida sem possibilidade de mensurar essa felicidade, hoje,
graça às pesquisas científicas sobre o assunto, é possível medir o grau da felicidade
de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos a partir de uma multiplicidade de
variáveis e de um conjunto mais ou menos complexo de questões diversas
objetivamente constituídos para serem direcionados aos entrevistados, mas, em
geral, existem dois tipos de questionamento, um baseado na emoção (positiva ou
negativa): Were you happy yesterday?, e o outro na avaliação: Are you happy
with your life as a whole? (WHR, 2013, p. 3). É em torno dessas duas perguntas centrais,
que levam em consideração diferentes variáveis, que se articula o conteúdo dos
WHR da ONU. A primeira pergunta é puramente subjetiva e fechada, e necessita,
por conseguinte, de uma resposta automática por sim ou não. A segunda é mais
aberta por que objetiva a levar o indivíduo a avaliar sua vida enfatizando diversas
variáveis externas nas respostas a serem colocadas, o pesquisador a analisar
cientificamente essas variáveis que ultrapassam o sentimento e a emoção
pessoais.
No
âmbito da mensuração da felicidade, a noção de variável é central por que sem
variável, é impossível estabelecer o grau de felicidade. Por isso, o pesquisador
precisa desde o início definir as variáveis com as quais gostaria de trabalhar,
pois, o grau de felicidade muda, no mundo em geral e em cada sociedade em
particular, em função das variáveis como gênero, sexo, idade, profissão. Por
exemplo, se se tratar da variável sexo, as mulheres parecem ligeiramente,
segundo Inglehart (1990), mais felizes do que os homens (Inglehart, 1990 apud Ribeiro, [2000?], p. 8).
Essas
perguntas exigem de saber com quais variáveis queremos trabalhar e qual
metodologia priorizar: Objetiva ou subjetiva. Portanto, para medir a
felicidade, dois elementos são essenciais, a variável e o método. Todavia, a
partir dessas duas perguntas (tomadas como amostra), é possível construir a
quantidade de gráficos e de quadros que quisermos, mas elas não traduzem, em
nenhum sentido, a simplicidade e a facilidade da análise da felicidade tanto do
ponto de vista individual como social. Trata-se, porém, de uma amostragem na
formulação de perguntas que podem variar em situação diferente e ser colocadas
de outra maneira, todavia, serão, geralmente, articuladas em torno de duas perspectivas,
objetiva e subjetiva. Porque? Por que ser feliz, além de ser uma aspiração,
resulta hoje de uma combinação entre o sentimento emocional e subjetivo da
pessoa e o ambiente social, cultural e político no qual são construídas suas
relações sociais. O pesquisador não pode escapar a esses fatores.
Quando,
por exemplo, Ribeiro no seu inquérito tem entrevistado acerca 8951 indivíduos
(4158 homens e 4793 mulheres) no Brasil, ele tinha por prioridade metodológica
as opiniões pessoais e subjetivas dos cidadãos sobre o que realmente os faz
felizes. A pergunta que se baseia na satisfação
pessoal do indivíduo com a vida cotidiana que está levando, sendo aberta e
livre, convida o indivíduo a fazer uma avaliação pessoal e subjetiva da sua
própria vida a partir das variáveis sociais, políticas, econômicas e culturais
externas como relações sociais, casamento, emprego, condição de trabalho, renda
própria, lazer, etc. Portanto, nesse caso, as perguntas, de maneira individual
que sejam formuladas, podem se inserir numa escala de 0 a 10, onde 0 significa muito infeliz e 10 muito feliz. Essas variáveis objetivas acima mencionadas podem se
tornar o ponto de partida de uma investigação científica ao inverter a
pergunta: Qual aspecto ou atividade da vida social deixa o indivíduo feliz ou
infeliz?
Aí
as respostas podem surpreender e variar ao mesmo tempo se um apaixonado do
futebol coloca esse jogo como elemento que o faz feliz, um pai, os abraços
carinhosos da sua esposa e das suas crianças que os esperam entrando em casa
após uma jornada de trabalho difícil. Dentre as pessoas felizes que Russell
conheceu na sua vida, era um jardineiro que encontrou no seu trabalho esse
mesmo tipo de felicidade que falamos. Tudo isso traduz, em resumo, três coisas.
É que, primeiro, a felicidade subjetiva e individual é um estado passageiro e
parcial. Segundo, a felicidade é sempre comparativa e relativa[5] e
as coisas que deixam as pessoas felizes são muito diversas, múltiplas e
complexas, variam em função do tempo e do espaço, e, por fim, ela é um processo
sempre em construção, um valor social que se adquire na sociedade. Nas linhas seguintes
vamos levar em conta as duas visões científicas da felicidade propostas uma pela
psicologia e outra pela sociologia.
3.
A
felicidade do ponto de vista da psicologia
Como a psicologia vê a felicidade? Ser feliz, para
Bertrand Russell (2005), é uma iniciativa pessoalmente tomada pelo indivíduo,
ou seja, é, de um lado, gozar de todas as possibilidades e de todos os bens que
a natureza oferece sem se preocupar da situação dos outros, em outras palavras,
para o autor, a conquista da felicidade é um ato deliberadamente construído
pelo próprio indivíduo. A felicidade está na atitude e no comportamento do
indivíduo em presença da obra que está realizando (Russell, 2005, p. 121-124).
No sentido russelliano, é o indivíduo que, de maneira autônoma, se esforça e
trabalha duramente a ser feliz, pois, ele não pode ficar esperando que a
felicidade venha, ou que alguém ou algo miraculoso o faz feliz[6], mas
tem de ir atrás dela, tem que fazer um jeito para ficar feliz através das suas
ações. Por conseguinte, a felicidade é
uma conquista. David Niven (2001), um dos alunos de Harry Gilman, um famoso
psicólogo americano, ao retomar a visão do seu professor, vai no mesmo sentido
que Russell dizendo: “Ninguém é capaz de fazer os outros felizes em um passe de
mágica. O que podemos é ajudar as pessoas a verem aquilo que precisam ver,
apontar o caminho e torcer para que elas o sigam” (Niven, 2001, p. 3).
Sem precisar ir mais longe, a visão psicológica da
felicidade se concentra nos esforços pessoais do indivíduo ignorando todo fator
social (Russell, Ibid., p. 205 a seguir) e pode ser considerada como adquirida
num total isolamento do indivíduo do resto do corpo social. Este tipo de
felicidade é, assim, acessível a tudo mundo por que está na natureza e se
constrói de maneira subjetiva e autônoma pelo próprio indivíduo, então, não
depende da condição social da vida. Por fim, essa felicidade é de tipo normal e
animal (Ibid., p. 121-122).
Mas,
existe, segundo o filósofo britânico, um outro tipo de felicidade, este é
possível e accessível somente a quem sabe ler e escrever[7], nesse
contexto, ela, a felicidade, se encontra condicionada pelo nível de educação
adquirido. Sim a educação é um valor social, e, com certeza, Russell não ignora
isso, mas trata-se aqui de um tipo de educação como fruto de esforços pessoais
e individuais. Em outras palavras, essa felicidade é o produto da capacidade
espiritual e intelectual do indivíduo de se impor no corpo social, de se fazer
apreciar pela opinião pública, portanto, é pela cabeça e pelo intelecto que se
constrói este último tipo de felicidade, e, consequentemente, seu sucesso está inscrito
primeiro no estado psicológico do indivíduo, segundo, se relaciona com a apreciação
dos seus pares em particular e da opinião coletiva em geral. Aqui, Russell reconhece,
mesmo de maneira implícita, a importância do aspecto social que ele chama impessoal e aponta o seguinte:
O interesse por coisas impessoais, embora possa ter menos
valor como ingrediente da felicidade cotidiana do que a atitude amistosa para
com o próximo, é, mesmo assim, importante. Se toda a nossa felicidade depende
exclusivamente de nossas circunstancias pessoais, o mais plausível é que
estejamos pedindo à vida mais do que ela pode nos dar. E pedir demais é o
método mais seguro de conseguir menos do que seria possível (Russell, Ibid., p.
132).
Russell
concorda sobre o fato de que a percepção que a sociedade tem sobre um indivíduo
participa, além do seu nível intelectual, da felicidade deste último. É por
isso que a felicidade de um cientista é maior do que a de um artista. Portanto,
ambas as concepções de Russell da felicidade são puramente de natureza
psicológica e filosófica. Elas têm, não obstante, um aspecto relacional
interessante que merece ser sublinhado.
Com
efeito, segundo Russell, é difícil que um artista seja feliz na medida em que
as pessoas continuam tendo uma má percepção e apreciação da sua pintura,
enquanto a felicidade de um cientista moderno está mais na apreciação e na
popularidade que adquirem suas pesquisas e descobertas científicas dentro da
população, apesar da incapacidade desta última de entender o conteúdo da
ciência. Portanto, o artista não pode ser feliz por que sua obra é
menosprezada, diferentemente, a felicidade do cientista já é algo consumido,
pois, ela não está na obra científica à qual se consagra enquanto tal, mas está
mais no sucesso desta não somente dentro da sua comunidade científica, mas
também dentro da opinião pública, pois, está perfeitamente convencido que, além
dos seus colegas cientistas, o corpo social ao qual pertence gosta do seu
trabalho, é impaciente das suas novas descobertas científicas que, com certeza,
o transformam em um personagem super importante na sociedade e, por fim, as
tomam por verdade absoluta. Os dois tipos de felicidade dependem literalmente de
um fator externo, a opinião coletiva, que tanto o artista como o cientista, cada
um em que diz respeito, se esforça a agradar. Mas, a diferença está na
valorização social concedida à obra de cada um deles (Russell, ibid, p.
123-125). Isso chama nossa atenção a reconhecer que, depende da sociedade e do
país, há atividades que deixam, com certeza, os indivíduos mais felizes do que
outras.
Em resumo, a abordagem psicológica se
concentra na avaliação da vida afetiva, mental, emocional e intelectual do ser humano.
Ela é mais subjetiva na medida em que leva em conta a saúde mental, o estado
mental e a personalidade do indivíduo no momento de determinar se é feliz ou
não. Além disso, ela se concentra na busca individualista e autônoma pelo este
da felicidade (Russell, 2005; Niven, 2001). Mas, apesar da ênfase nesse aspecto
intrínseco, Russell assim como Niven, reconhece implicitamente que o fator
externo, que é eminentemente social e produto da sociedade, não pode ser
ignorado na análise da conquista da felicidade pelo indivíduo. Daí a
necessidade de provocar uma discussão sociológica sobre a felicidade.
4.
A
visão sociológica da felicidade
A
felicidade é, na visão sociológica, um valor e um sentimento que nasce na
sociedade. A abordagem sociológica leva em consideração os sentimentos da
consciência coletiva através as relações sociais e a vida coletiva, por sua
vez, ela traz a esse debate uma contribuição muito significativa sublinhando a
participação dos atores sociais e a intervenção dos fatores externos (sociais,
culturais e políticos) que constituem um dos critérios fundamentais para falar
da conquista coletiva da felicidade. Em outras palavras, o debate sobre a
felicidade, ainda tão recente, já está colocado no centro da preocupação
científica e da investigação sociológica. A sociologia preconiza a ideia
segundo a qual a felicidade deve ser um estado de bem estar coletivamente conquistado.
De
fato, os sociólogos clássicos como Durkheim e Weber, apesar de não terem
especificamente teorizado sobre o tema, sempre chamam nossa atenção sobre a
ideia de que a sociedade, como ser social e estrutura social, desempenha um
papel importante no sucesso e na realização da vida do indivíduo. Ou seja, ao
interpretar a sociologia de Durkheim,
podemos dizer que a felicidade é um produto da sociedade e passaria pela forte
coesão e solidariedade social entre os membros de uma sociedade e pela integração
social destes. Em outras palavras, a sociedade moderna seria uma sociedade de felicidade
na medida em que consegue realizar essa coesão social entre seus membros e os mantém,
pela socialização e pelo respeito das normas, na harmonia social. Portanto, no
sentido durkheimiano, a felicidade seria um valor social adquirido e tanto a
sociedade é capaz de garantir ao indivíduo uma integração na vida coletiva e este
fica agarrado às regras sociais quanto aumentaria sua felicidade (Durkheim,
1912; 1897). Em Weber, vemos a importância do aspecto do valor, como a ética,
fazendo do indivíduo um potencial portador de valores a serem compartilhados com
os dos outros na formação social dos comportamentos. Assim, na concepção
weberiana, podemos dizer que a felicidade seria um valor social no qual a ética
representa um elemento central
(Weber, 1904-1905; 1971).
Portanto,
além dos elementos econômico e psicológico, que têm um peso muito
significativo, entram em consideração um conjunto de variáveis sociais que
permitem também falar da felicidade, entre os quais há a educação, a amizade[8], o
valor (cultural e simbólico), a ética, a virtude, e assim por diante. Em outras
palavras, apesar da grande relevância que eles têm, os bens materiais e
econômicos e a individualidade não são os únicos fatores a deixar o ser humano
feliz; os bens simbólicos e culturais; os valores, as relações sociais, as
relações familiares etc., que são coisas sociais, produzem também a felicidade.
É por isso que, ao levar em consideração todas essas variáveis internas e
externas; individuais e sociais, medir o grau da felicidade é muito difícil e desafia
a sociologia particularmente sobre o plano empírico.
Nos
parágrafos acima, vimos que tanto na definição como na mensuração, a felicidade
é uma combinação entre o individual e o social; uma relação entre o interior e
o exterior. Portanto, há aqui uma outra maneira de abordar o problema da
felicidade, além das teorias da psicologia positiva e da filosofia da vida, é
que o exterior é um produto de fora engendrado por uma coisa de fora (ver
Durkheim, 1894, p. 78-80), e essa coisa
de fora não pode ser outra coisa que o produto da consciência coletiva.
Assim, é este social que vem colocar em xeque a visão individualista da
conquista da felicidade que precisa passar necessariamente pelo sentimento
coletivo para atingir seu paroxismo. De fato, se, por um lado, a felicidade se
encaixar somente numa individualização, sua compreensão como fato social é
difícil e seu resultado não pode ser diferente do daquele indivíduo que se
afastou da ordem social, o suicídio, por exemplo, para repetir Durkheim. Do
outro lado, se uma grande parte da felicidade depende – reconhecem, apresar de
tudo, os autênticos filósofos como Russell – dos fatores externos, ou seja, dos
fatos sociais, que são totalmente independentes da capacidade e da vontade do
indivíduo, é que o social desempenha um papel irrefutável na busca e na
conquista da felicidade. Então, a felicidade é essencialmente um sentimento
coletivo que reflete a vida coletiva.
Quando
estivermos falando do social, estamos referindo, lembrando Durkheim e Weber, a
um fenômeno social, a um conjunto de valores produzidos pela sociedade, que vem
de fora e se impõe ao indivíduo, isto é, um ser coletivamente criado pela
associação dos indivíduos e que compele cada indivíduo a um modo de agir e, por
fim, sobre o qual ele tem nenhum poder de constrangimento. A fé religiosa que, por
exemplo, foi considerada pela psicologia positiva como um elemento espiritual
relevante para alcançar a felicidade, é um valor social produzido por uma
consciência social. Pois, não somente a fé, mas também a identidade, o
sentimento de pertencimento a um corpo social com o qual compartilhamos
valores, crenças e culturas, o ambiente sócio-cultural que nos rodeia, o
sentimento de segurança e de confiança já são sentimentos que, criando em nos um
estado de felicidade, não são produto nem propriedade de um indivíduo, mas os
do ser social cujo somos um simples reflexo.
Por valor
social, devemos entender tudo que se apreende pela interiorização, que se
adquire pela exteriorização, e que tem uma importância muito particular dentro
da estrutura social. Os valores são complexos e se erigem em sistema, assim,
falamos de sistemas de valores. Portanto, os portadores de valores são atores,
ao mesmo tempo, individuais e sociais (ver Rezsohazy, 2006, p. 1-12). Não vamos entrar nos detalhes
relativos ao debate complexo e complicado sobre o valor, mas é evidente que a
aquisição dos valores e a consciência de ter valores, como, por exemplo, a estima de si, a identidade de si que abordou Giddens (1987) contribuam muito para a
conquista da felicidade. É tão evidente que três critérios enfatizados pela ONU
para se sentir feliz, a saber, a
liberdade de fazer sua própria escolha, a generosidade e ter alguém
com quem contar, são similares a esses valores e muito interessantes para
pensar efetivamente a felicidade não somente como valor social adquirido, mas
também como progresso social.
Assim,
nessa situação, o funcionamento das instituições sociais e políticas, o
ambiente sócio-cultural e o compartilhamento dos valores determinam o estado da
sociedade que, ele mesmo, produz a felicidade pela confiança que inspira. Ou
seja, a sociedade suscita em cada indivíduo o sentimento de ser feliz. Pelo que entendemos em Rezsohazy, os valores sociais
nascem na coletividade e são feitos para serem compartilhados, não para se
fechar em si. Nesse caso, como o deseja a ONU através dos WHR, é importante que
a felicidade seja constituída um problema social e uma preocupação política
pela sociedade em geral, pelo Estado em particular. Ou seja, para que a
felicidade seja tratada como um assunto político, é preciso que seja inserida
no plano e nos objetivos políticos do Estado, como projeto social, importa
fazê-la partir do sentimento coletivo. Assim, a construção da felicidade fica
reservada ao corpo social, é o papel da sociedade de fazer seus membros
felizes, pois, a felicidade em si é a expressão da consciência coletiva, o
reflexo do estado da sociedade e um projeto coletivamente trabalhado, construído
e concretizado.
Considerações finais
A
intenção aqui neste trabalho não foi tratar sistemática e conceptualmente o
assunto de felicidade enquanto tal, mas provocar alguma reflexão e discussão em
torno desse tema ainda muito jovem no campo da sociologia. Para uma sociologia
da felicidade, entenderíamos uma teoria sociológica que investigaria os
impactos sociais da felicidade, como a coletividade constrói sua felicidade, e
que a trataria em função do método sociológico. Se devermos considerar a
felicidade como um valor social e um progresso social ou se, ao inverso, a
situação na qual evolui a sociedade pode determinar o grau de felicidade, então,
são a vida social e os contextos sociais, relacionais e inter-relacionais que
determinam a felicidade e não o contrário. Nesse caso, será que ser feliz
significaria ter boas relações sociais? Quais seriam os tipos de relações
sociais a construir para ser realmente feliz? Assim, este trabalho tem
participado no início desse espinhoso debate sociológico sobre a felicidade
mostrando que a felicidade é uma construção social e coletiva, mais permanente,
consistente e resistente às crises funcionais e estruturais quando é
coletivamente conquistada. Por fim, ele deixa para trás as perguntas acima para
ampliar o debate e suscitar outras reflexões. Esperamos que seja uma
contribuição significativa e útil à problemática sociológica da felicidade.
Campinas, 12 de agosto de 2015
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ago. 2015.
[1] O World Happiness Report de 2013, doravante citado WHR neste trabalho, defende
a ideia de voltar à virtude e à ética como forma de conquista da felicidade (WHR,
2013, p. 80-94).
[2] Também o termo de bem estar subjetivo é geralmente usado como sinônimo da felicidade
(ver Corbi e Menezes-Filho, [2012?];
Ribeiro, [2000?]; WHR, 2013; 2015).
[3] Ver o estudo feito por Raphael
Bottura Corbi e Naércio Aquino Menezes-Filho cujo título é Os Determinantes Empíricos da Felicidade no Brasil.
[5] Corbi
e Menezes-Filho, baseando-se nas argumentações do economista Easterlin (1974), têm
analisado o aspecto relacional e a relatividade da avaliação objetiva e subjetiva
da felicidade.
[6] Segundo David Niven, aluno de Harry Gilman,
ambos psicólogos, ninguém pode fazer um individuo feliz. A felicidade é um
caminho que, após ter sido apontado por alguém, será livremente seguido ou não.
As argumentações desse autor se concentram na psicologia positiva e numa
filosofia da vida.
[7] Na antiguidade grega, desde Sócrates, Platão
e Aristóteles, a questão educacional sempre foi colocada como uma variável importante
na felicidade dos indivíduos (ver Oishi, ibid., p. 5-6; WRH, 2013).
[8] A este
título, comparando o peso e o papel das atividades humanas e das relações
sociais na busca da felicidade, Russell disse o seguinte: “A camaradagem e a
cooperação são elementos imprescindíveis à felicidade do homem normal e bem
mais fáceis de encontrar na indústria do que na agriculturaˮ. (Russell, 2005,
p. 129).
tem como me mandar esse seu artigo por email para que eu possa citá-lo? Pois aqui não aparece a data e a publicação do mesmo.
RépondreSupprimermonicaliberato@hotmail.com
SupprimerOlá Monica,
A data foi atualizada. Abraçosss
Olá Monica,
SupprimerA data foi atualizada.
Abraçosss