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jeudi 1 novembre 2018

CARACTERIZAÇÃO DO UNIVERSO SÓCIO-RELIGIOSO HAITIANO: HÁ CONFLITO E VIOLÊNCIA OU NÃO HÁ?

CARACTERIZAÇÃO DO UNIVERSO SÓCIO-RELIGIOSO HAITIANO: HÁ CONFLITO E VIOLÊNCIA OU NÃO HÁ?

RESUMO

Acredita-se que a sociedade haitiana, diferentemente das outras sociedades muito religiosamente conservadoras, não tem a tradição de conflito religioso e mesmo violência religiosa. Esta ideia recebida é verdade? Com efeito, a coabitação de três religiões dominantes, neste caso, catolicismo, protestantismo e vodu, no mesmo espaço social não pode ocorrer sem conflito e violência de uma contra outra. Quando uma busca dominar a outra, isso também não é possível sem violência. Pluralismo religioso, liberdade religiosa, liberdade de exercer seu culto sem temer nada são temas muito problemáticos no Haiti. Este artigo, partindo dos autores como Hurbon e Métraux, pretende mostrar que, mesmo se não fossem tão desastrosos como alhures, sempre houve conflito e violência entre religiões no Haiti.

Palavras-chave: Haiti. Catolicismo. Protestantismo. Vodu. Conflito. Violência.

ABSTRACT

It is believed that Haitian society, unlike other very religiously conservative societies, does not have the tradition of religious conflict even religious violence. Is this received idea true? In fact, the cohabitation of three dominant religions, in this case, Catholicism, Protestantism and Voodoo, in the same social space can not take place without conflict and violence against one another. When one search dominates the other, this is also not possible without violence. Religious pluralism, religious freedom, freedom to worship without fearing anything are very problematic issues in Haiti. This article, starting with the authors like Hurbon and Métraux, intends to show that, even if they were not as disastrous as elsewhere, there was always conflict and violence between religions in Haiti.

Keywords: Haiti. Catholicism. Protestantism. Voodoo. Conflict. Violence.


INTRODUÇÃO

Apesar do decrescimento que sofreu nos últimos 30 anos, o catolicismo permanece ainda hoje a religião predominante no Haiti onde, segundo as últimas estimações de IHSI (2015), 55 % dos indivíduos se declaram praticantes desta religião. O protestantismo – uma religião em rápida ascensão – reagrupa as confissões como Batista, Metodista, Adventista, Pentecostal e Igreja Episcopal representando 28 % dos crentes. Os sem religião não ultrapassam 10 % enquanto o vodu ganha em total só 2,1 % de declarantes. As outras confissões religiosas como Franco-Maçonaria, Testemunhos de Jeová, Islão e Mórmon representariam em total ao menos 3 %.  Todavia, embora oficiais precisamos tomar essas estatísticas com cuidado por causa das relações confusas em termos de ritos que existem entre Franco-Maçonaria, vodu e catolicismo. Assim, cada uma dessas três religiões principais que fazem parte do sistema religioso haitiano tem sua caracterização social peculiar que precisa ser, sucintamente, entendida não na ideia de fazer uma historicização completa delas, mas no objetivo de apresentar ao leitor um conhecimento básico sobre a constituição do meio sócio-religioso haitiano.

1.1. O catolicismo

A religião católica tem uma longa tradição histórica no Haiti. Infelizmente, ela começou com a colonização espanhola em 1492 e tem, nas suas raízes sócio-históricas, a característica de uma religião escravizadora, violenta e intolerante transportada de uma civilização a outra por um sistema de dominação. O Código Negro publicado pela França em 1685 proibiu todo outro culto que não seja católico e fiz do clérigo católico a principal administradora do pretendido processo de humanização e de civilização dos escravos, tal processo deveria passar, inevitavelmente, pelo catolicismo erigido como religião da colônia francesa de Santo Domingo. E, mesmo se tivesse um conflito entre o clérigo e os proprietários dos escravos por causa do ensino religioso e das práticas religiosas, na colônia francesa de Santo Domingo, a igreja católica tinha a prerrogativa cultural de educar, batizar e converter os escravos oriundos da África a fim de que estes se tornem muito gentis aceitando a escravidão como uma generosidade de Deus e o catolicismo como uma marca civilizadora. Portanto, as relações entre a administração colonial e a igreja católica não eram sempre harmoniosas, ocorreram alguns conflitos porque para os proprietários dos escravos a evangelização, o ensino religioso, os batismos, as predicações, tudo isso despertou na mente do escravo um sentimento de liberdade que poderia levar à rebelião, tal sentimento é muito perigoso pela sobrevivência da colônia (PRESSOIR, 1945, p. 13-14). É por isso que:

Peu de planteurs admettaient des religieux sur leurs terres: les uns par crainte de voir leur cruauté et leurs moeurs dissolues dénoncées du haut de la chaire, les autres par une méfiance plus ou moins consciente de l´esprit révolutionnaire contenu dans les principes évangéliques (MÉTRAUX, 1958, p. 27).

A implantação do catolicismo no Haiti colonial coincide fortemente com a formação da igreja católica como potencial apoiadora da escravidão sem negar, no entanto, que alguns padres católicos eram contra a escravidão em si e sustentaram os escravos nas suas lutas pela liberdade. Desta maneira, a revolução haitiana não é a obra unilateral e exclusiva do vodu no plano religioso, mas também a do cristianismo e do catolicismo (HURBON, 2004, p. 105-110). Se a administração colonial constituiu o motor que fez virar a maquina política e econômica da colônia, o clérigo católico era responsável pela educação religiosa e cultural dos escravos. Esta educação era por assim dizer uma domesticação mental e uma coisificação dos escravos. Dito de outra maneira, enquanto a instituição colonial se preocupa da parte física do escravo, a igreja católica cuidava da parte espiritual, psicológica e mental. Se, além disso, a administração colonial havia por papel a gerência das coisas materiais da colônia, a igreja católica das coisas imateriais, a saber, o espírito e a alma do escravo pelo catecismo. Enfim, podemos concluir que a igreja católica e a administração colonial se entenderam para compartilhar entre elas o escravo como objeto, o poder político, desde então, a igreja católica nunca parou de influenciar as decisões políticas no Haiti.

É um assunto muito complexo que não pode ser abordado aqui por razões metodológicas. Entretanto, é importante entender que o caráter a-político da religião católica está sempre na teoria porque na prática ela tem sempre um controle sobre o aparato do Estado orientando sua política interna e externa. A história do Haiti nos ensina que a igreja católica exerceu uma pressão de ferro sobre o Estado haitiano para que o catolicismo permaneça durante senta anos a religião oficial e ele combate o vodu como culto demoníaco nideia de que o país seja civilizado e apto a entrar na modernidade ocidental. Esta pressão se cumpre no âmbito da adoção, em 28 de março de 1860, de uma concordata que, ao definir as relações político-religiosas entre Igreja católica e Estado haitiano, tem consagrado à religião católica um poder quase plenipotenciário muito criticado. Segundo Micial Nérestant (1994), uma concordata é um instrumento jurídico concluído, assinado e ratificado entre o Saint-Siège e um Estado soberano e que trata particularmente das questões religiosas. Ela é do mesmo valor que um tratado comum, só que nela o Saint-Siège age como uma instituição espiritual e atemporal que trata com um Estado físico-soberano e temporal. Portanto, a concordata é um tratado de natureza político-religiosa no qual as duas partes se concordam sobre seus direitos e deveres em matéria religiosa. Existem, assim, três eventos maiores na sociedade haitiana de lembrança das relações político-religiosas entre o Estado haitiano e a igreja católica: a assinatura da concordata de 1860 e as duas campanhas anti-supersticiosas contra o vodu em 1898 e 1942.

A concordata era só uma espécie de formalidade da igreja católica para tornar oficiais as relações entre Vaticano e o Estado haitianosenão desde a colonização a igreja católica já tinha na mão o monopólio de educação, cultura, religião e beneficiou de muitas vantagens econômicas. Este monopólio nunca foi alterado, embora tenha sofrido algumas modificações. Além disso, o desenvolvimento das ajudas humanitárias e dos programas sociais torna a igreja católica uma instituição cada vez mais importante que se aproxima mais das camadas sociais esquecidas ou abandonadas pelas políticas públicas do Estado. Com efeito, até o fim dos anos noventa as ações sociais e caritativas da igreja católica se direcionaram às populações desfavorecidas das zonas rurais onde as missões católicas – mais tarde as missões protestantes – têm um acesso mais fácil do que o próprio Estado haitiano. É por isso que, apesar do poder totalitarista de Duvalier, da ferocidade e crueldade do seu regime, era difícil mexer no super controle da igreja católica sobre a educação, a cultura e a religiãoComo bom observador das realidades sociopolíticas, ele sabia que precisava da igreja católica para satisfazer alguns desejos da população, particularmente, em matéria de educação, de registro do nascimento, de saúde etc., sobretudo nas comunidades rurais inalcançáveis para o Estado haitiano. O que faz com que, além das suas implicações frequentes nas questões políticas do país, a igreja católica é uma instituição muito socialmente engajada nas comunidades mais vulneráveis. Isso significa que a igreja católica é um ator muito importante com o qual o regime tem que compor na medida em que ela lhe ajuda a cumprir os papéis que ele mesmo é incapaz de fazer. A fraqueza do Estado haitiano engendrada pela corrupção e pelas rivalidades políticas internas constituiu compensa e aumenta a força e os privilégios da igreja católica. Assim, sem esquecer alguns centros de saúde, as melhores escolares de ensino primário e secundário, centros de alto nível de formação universitária e profissional do país pertencem à igreja católica.

No entanto, algumas modificações ocorreram na religião católica quando, primeiro, o regime duvalierista decidiu usar o catolicismo como arma política, segundo, quando o protestantismo chegou ao Haiti e começou a fazer concorrência com o catolicismo espalhando-se rapidamente nos meios sociais onde o catolicismo já se implantou há muito tempo. Mesmo se não vamos entrar no debate das rivalidades entre protestantes e católicos nem fazer uma sociologia do protestantismo e do catolicismo no Haiti, é importante sublinhar duas particularidades que os diferenciam: uma linguagem de massa e a rápida adaptação do protestantismo às realidades sociais existentes. Embora presente nas zonas populares, a igreja católica nunca conseguiu apagar nas mentalidades a ideia de que o catolicismo é uma religião elitista, burguesa e de classe que, dificilmente, fala as linguagens dos pobres e se coloca ao seu nível educacional e social básico para compreender seus problemas e lhes fazer esquecer seus sofrimentos quotidianos. Em outras palavras, apesar da sua antiguidade, o catolicismo tinha uma enorme dificuldade de trabalhar a integração social dos indivíduos e lhes trazer uma mensagem de esperança. Foi exatamente o que fez o protestantismose a linguagem da religião católica era como metafísica para as massas analfabetas, os protestantes utilizam um linguagem populista muito acessível, compreensível e correspondente ao que elas desejavam. 

A igreja católica nunca escondeu sua hostilidade e intolerância aos cultos vodus. Perseguido e violentado pelos católicos e por uma parte importante da classe política haitiana, o vodu é visto por ela como o fundamento dos problemas de civilização e de modernização da sociedade haitiana e um obstáculo à entrada do Haiti no conselho das nações. Em 1860, sob a base da Concordata, uma série de perseguições começou e as violências contra o vodu eram tão severas como era possível falar de uma guerra de religião, só que as ataques não foram recíprocas. Hurbon que escreveu sobre este problema falou da era de grande cumplicidade entre a Igreja católica e o Estado haitiano contra o vodu (HURBON, 2004, p. 135-158). De acordo com o autor, as violências simbólicas e culturais do catolicismo contra o vodu passaram por diferentes etapas.

Il y a eu, rappelons-le, au moins trois grandes vagues de lutte entreprise par l´Église contre le vaudou: Dans le nord du pays en 1896, une grande croisade pour dénoncer les vaudouisants est organisée dans toutes les paroisses avec l´appui d´une lettre circulaire du président de la République; plus tard, pendant l´occupation américaine vers les années 1920, le clergé composé d´une majorité écrasante de prêtres français, venus de Brétagne, prêtait main forte aux soldats amériains pour sortir le pays de la barbarie que représentait le vaudou; enfin, en 1941, sous la triomphante appelation de «campagne antisuperstitieuse», l´Église pouvait, avec l´aide directe du gouvernement et de la gendamerie, détruire les objets cultuels, arrêter les serviteurs des dieux et exiger d´eux un serment dit des «rejetés», par lequel ils juraient de ne plus participer aux oeuvres du diable que sont les pratiques du vaudou (Idem, p. 244).

Durante o regime de Papa Doc, a situação mudou, mas não no sentido da tolerância inter-religiosa, da aceitação e do respeito do pluralismo religioso, do reconhecimento oficial do culto vodu, da igualdade entre as religiões, mas no sentido denfraquecimento do catolicismo e da perda na sociedade do seu hegemonismo religioso. Teoricamente, a chegada de Duvalier ao poder diminuiu as perseguições e violências contra o vodu, pois ele mesmo era, antes de chegar à presidência, um dos defensores do vodu como parte integrante da nossa haitianidade. No passado, sua posição em favor do vodu desagradava muito a hierarquia da igreja católica. Maso objetivo de Duvalier era fazer do vodu um instrumento supersticioso, colocar na mentalidade popular o medo do personagem místico e maléfico que ele encarnava e forçar a aliar-se a sua causa a igreja católica integrando no clérigo nacional padres total e cegamente submetidos às políticas do regime. A este respeito Hurbon disse o seguinte: 

En orientant son action, dit Hurbon, auprès de l´Église autour du problème de l´indigénisation du clergé et de l´épiscopat, Duvalier ne prétendait par diminuer les pouvoirs et les privilèges de l´Église, il voulait même les renforcer, et l´essentiel demeurait dans la soumission totale de l´Église à ses desseins politiques (Idem, p. 226).

Assim, gostaríamos de concluir dizendo que este estado de dominação não ia permanecer muito tempo na medida em que as primeiras ideias de oposição se circulavam nas imprensas católicas e os movimentos contra o regime emergiram dentro da igreja católica. Por medida de precaução e de prudência, ela jogava a carta de conformismo sem uma real desorganização e desestruturação das suas bases ou ainda da politização da alta hierarquia eclesiástica.

1.2. A chegada do protestantismo ao Haiti

Como o catolicismo, o protestantismo é igualmente uma religião implantada na sociedade haitiana no século XIX e, como toda outra religião, ele foi também proibido pelo Código Negro nas todas as colônias francesas, tal códiginterdisse também toda forma de manifestação religiosa na colônia e os escravos africanos não tinham direito de se reunir qualquer seja a razão nem de praticar sua própria religião de origem, o Islão. Entre as diferentes religiões afro-europeias que chegaram ao país neste período, o protestantismo haitiano, em particular, tem uma história fascinante que começou quando, em 1817, 14 anos após a conquista da independência, o presidente do sul e oeste do Haiti, Alexandre Pétion, aceitou receber uma missão metodista.

Cet accueil chaleureux et les contacts subséquents, nous dit Laënnec Hurbon, déterminent l´attente de Pétion qui espère que les missionnaires protestants pourront desservir, non à des fins sectaires mais par humanisme, les besoins pressants de la nouvelle République dans le domaine de l´éducation. Les missionnaires fondent une école influencée par la méthode Lancastérienne. Ils visitent la population des principaux centres du sud de la péninsule et suscitent un grand intérêt. Ils prêchent et catéchisent en français et en créole devant des foules, atteignant parfois des centaines de personnes, dans les montagnes surplombant Port-au-Prince. Leur message est sévère: on doit abandonner fétiches, amulettes, sortilèges et droit coutumier; «la fornication et l´adultère», ainsi que le travail le dimanche sont dorénavant condamnés. On incite le peuple à changer radicalement sa façon de vivre (HURBON, op. Cit, 2000, p. 96)

Esta citação do sociólogo haitiano apresenta uma ideia suficientemente geral da maneira de que, historicamente, o protestantismo se implantou no Haiti para entender a natureza da sua mensagem e identificar o setor de atividade social no qual ele pretendia investirSua mensagem evangélica já mostrou que, realmente, era um movimento religioso que chegou ao país com muita determinação, energia, perspicácia e estratégia para radicalizar a vida religiosa preconizando uma espécie de metamorfose social total daqueles que são vistos como pecadores. Esta radicalização da vida religiosa vem dos conflitos doutrinais relativos principalmente à autoridade do papa e ao purgatório que, durante a reforma na Europa no século XVI, opuseram católicos e ortodoxos. Ela visava principalmente os adeptos do vodu. Os primeiros missionários protestantes que chegaram ao Haiti eram os Metodistas Britânicos e em seguida vêm os protestantes americanos cuja maioria era imigrante em fuga da segregação racial e da escravidão no sul dos Estados Unidos.

Até a ocupação norte-americana, em 1915, só existiam no Haiti alguns 3 000 protestantes (HURBON, 2000, p. 95). Comparando seus primeiros passos com o avanço do catolicismo no país, podemos considerar que o desenvolvimento do protestantismo haitiano de raízes britânica e americana foi um pouco lento. Esta lentidão não dizia respeito só ao protestantismo haitiano, os avanços de algumas igrejas protestantes americanas como Protestant Episcopal Church foram também afetados. Contudo, após ter superado as dificuldades sociais, culturais, políticas e econômicas, ele começou a se tornar uma religião muito importante na sociedade haitiana e sua expansão nos anos sessenta sob diversas vertentes foi espetacular. O protestantismo em si tem muitas fontes. Da versão alemã – seu berço – até às igrejas reformadas da América passando pelas igrejas reformadas da França e da África, a versão protestante que chegou ao Haiti sofreu algumas alterações (PRESSOIR, 2016, tome 1, p. 38-52). E, apesar da influência do protestantismo francês no plano intelectual e cultural, o protestantismo haitiano se encontra, em geral, marcado pelas fontes inglesas e americanas (Idem, p. 53).

A lentidão do desenvolvimento do protestantismo desde sua aparição até o início do século XX pode ser explicada pelo contexto social e político da época muito agitado pela sucessão de governos ilegítimos e de regimes ditatoriais, pelos golpes militares frequentes, pelas barreiras políticas e pelos conflitos com a igreja católica (HURBON, 2000, p. 97-99). Mas, se o protestantismo e o catolicismo se opuseram do ponto de vista doutrinal e teológico, ambos eram juntamente unidos para combater o vodu. Pois, vimos claramente na citação em cima que, sem nomear explicitamente o vodu, mas alguns elementos a serem achados só no vodu como amuletos e feitiços, as campanhas evangélicas do protestantismo já eram uma ataque implícita e indireta ao vodu, talvez, ele venha para continuar, completar ou acompanhar a missão da religião católica na caça do vodu. Ora, após muitos fracassos, a igreja católica tem abandonado este trabalho e se consagrou a outras tarefas mais intelectuais e científicas. “Depuis le Concile Vatican II, dit Clérismé, cependant il y eut un changement d´attitude, l´Église catholique se montre plus compréhensive, plus tolérante et même cherche à comprendre le Vodou de l´intérieur (CLÉRISMÉ In HURBON, 2000, p. 223)”. Mas, hoje, o protestantismo, em maioria das suas vertentesse mostra mais radical contra o vodu do que a própria igreja católica.

Segundo algumas estimações (não verificadas), os protestantes cresceram muito e representariam hoje 60 % da população haitiana, o que seria, por conseguinte, uma superação do catolicismo pelo protestantismo após vários anos de hegemonia religiosa. É perigoso acreditar neste percentual – embora o protestantismo tenha conhecido um crescimento exponencial nos anos oitenta e, com certeza, as igrejas protestantes sejam quantitativamente maiores que as igrejas católicas – porque inspirado do fanatismo religioso ele não se enquadra nas estatísticas oficiais. Este problema de estatística fiável é devido tanto a uma desordem total na organização estrutural do setor religioso como a uma falta de controle institucional pelo governo do funcionamento dos cultos religiosos no território nacional. Portanto, como não há um controle sistemático da criação, da mudança de nome, da geolocalização e da deslocalização das igrejas, então, elas estão crescendo de qualquer maneira como flores selvagens. O ministério dos cultos que deveria cumprir este papel parece estar ultrapassado por este fenômeno social de pululação das igrejas. Isto engendra um déficit de confiança e de credibilidade para o protestantismo haitiano, cuja principal reclamação desde início é um tratamento igual à igreja católica.

As estatísticas do IHSI segundo as quais 28 % da população haitiana é protestante nós parecem mais confiáveis e razoáveis porque se trata da única instituição nacional especializada neste assunto e capaz de realizar um trabalho de inquéritos mais sério a este respeito. Ela mesma enfatiza que a expansão muito rápida do protestantismo desde 1980 houve por consequência a regressão do catolicismo na sociedade. Com efeito, a progressão do protestantismo foi caracterizado pelas estratégias dinâmicas de evangelização e de proselitismopelo surgimento de novos movimentos religiosos dentro do próprio protestantismo que, ao redor do mundo, é sempre visto como uma religião rebelde às doutrinas do cristianismo. Paradoxalmente, crescimento vertiginoso do protestantismo no Haiti coincidiu muito com o período em que o país estava passando por inúmeras fases de ditadura (civil e militar) até o surgimento da era duvalierista. Em resumo, se o catolicismo era visto como uma religião elitista e socialmente desintegradora pelas massas fazendo-lhes sentir membros de uma outra sociedade, o protestantismo como religião de rebelião social desempenhando um papel mais socializante do que o catolicismo, o vodu, religião de raiz africana, está no centro dessas duas extremidades e simbolizará a resistência social do povo haitiano.

1.3. O vodu Haitiano

 À semelhança do candomblé brasileiro o vodu haitiano é de raízes africanas (Benim e Congo), ou seja, um produto social dos escravos africanos que foram vendidos pelos seus semelhantes africanos e transportados para Santo Domingo. E, mesmo se alguns dentre eles já tenham conhecido o cristianismo e o islamismo, eles permaneceram agarrados à sua cultura africana. A palavra vodu vem do termo beninês vodoun, que significa espírito e divindade. Na existência do vodu tal como criado na colônia de Santo Domingo, há, em particular, dois momentos históricos que marcam mais sua visibilidade como religião. De um lado, além dos encontros ordinários na clandestinidade, temos as associações e reuniões noturnas dos escravos com dimensão sociopolítica e religiosa. A mais importante ocorreu em 14 de agosto de 1791 e foi chamada de Cérémonie du Bois Caïman. Do outro lado, o segundo momento se refere às perseguições da igreja católica e dos protestantes. Paradoxalmente, essas perseguições concederam uma visibilidade maior ao vodu e produziram um resultado contrário ao que foi esperado, ou seja, enquanto eles não param de assimilar o culto do vodu ao fetichismo, satanismodiabolismo e à magia, ele se tornou mais influente.

Com efeito, esta reunião tinha um caráter solene na medida em que ela devia marcar a consagração do vodu como verdadeira religião popular dos negros africanos e levá-los à revolução social tão sonhada. Era um evento social, cultural, político e até místico relevante que não escapa à atenção da maioria dos historiadores haitianos embora as versões se diferenciem. Nele os deuses do vodu eram como uma força coletiva que animava a associação dos escravos e os guiava para o caminho da liberdade (MÉTRAUX, 1958, p. 34-48). Na reflexão do historiador haitiano Beaubrun Ardouin, era uma manifestação coletiva crucial na vida dos escravos para não somente conquistar sua independência, mas sobretudo para formar uma nação, enquanto Madiou viu nesta reunião uma espécie de luta racial que traduz o desejo e a sede de uma banda de negros africanos pela liberdade. Quando os escravos rebeldes se esconderam nas montanhas afastadas era no objetivo de, em primeiro lugar, fugir a escravidão e os tratamentos cruéis e desumanizantes dos cólons, em segundo lugar, de celebrar livremente seus cultos vodus longe dos olhos dos mestres e, por fim, de se reunir clandestinamente para discutir seus planos. É por isso que estreunião constitui um dos sucessos manifestos da prática do quilombola e não é por acaso que ela ocorreu no período noturno que era um tempo fatídico para os escravos. Eles aproveitaram sempre deste momento para se descansar, cometer o ato mais difícil como envenenar seu mestre e compartilhar entre eles as noticias sobre a situação da França.

Certo, esta reunião era perigosa e importante para os escravos, mas ela não era a primeira nem a última que eles concretizaram nos períodos noturnos. Embora interditas pelas autoridades coloniais, as reuniões noturnas entre os escravos eram uma maneira de desafiar a autoridade dos cólons e de permanecer conectados – em perigo da sua própria vida – com os espíritos do vodu. A noite representava o melhor momento em que os escravos contam entre eles o que os transtorna na colônia, conseguem consertar entre eles sobre a melhor maneira de conspirar contra os mestres. Além de ser uma das manifestações raramente públicas do vodu, esta reunião tem uma dimensão extraordinária porque foi nesta noite que os escravos tomaram a decisão mais importante de se rebelar com os brancos e de acabar com a escravidão e de assinar o pacto tácito da sua própria liberdade (SAINT-LOUIS, 2006). Além disso, ela tem um caráter especial porque traduz a manifestação socioreligiosa mais intensa das culturas africanas desde a criação da colônia, a união dos escravos na qual eles se sentiram investidos pelo sentimento da liberdade e pelos espíritos dos ancestrais, enfim, o momento simbólico para valorizar seus cultos vodus. Em resumo, esta cerimônia noturna era um grande momento de efervescência coletiva, pois, não apenas a noite era sempre para os escravos uma expressão de liberdade, mas esta reunião é a prova da força social que os escravos simbolizavam na colônia.

Porém, essas particularidades não impediram que o vodu e toda prática ligada a ele sejam tratados como paganismo e ferozmente caçados pela igreja católicaAntes da chegada do protestantismo para constituir a trilogia da conflitualidade religiosa, podemos dizer que, historicamente, entre o vodu e o catolicismo existia um conflito religioso real. A interdição do vodu não se restringe só ao período colonial, ela se estendeu até depois da independência, sobretudo durante a ocupação norte-americana. Todavia, o vodu devia ser praticado ao redor da colônia, nas montanhas onde se esconderam os escravos quilombos, e se espalhar clandestinamente entre os escravos das plantações e domésticos com, sem dúvida, a cumplicidade dos escravos quilombos. Apesar das interdições, nada impediu que a colônia francesa mais prospera do mundo seja contaminada pelo culto vodu e esta contaminação religiosa era, em grande parte, o fruto das ações dos escravos quilombos. O vodu devia também enfrentar a concepção da igreja católica segundo a qual ele é um problema de desenvolvimento social pelo país lembrando que, após a independência, ela conservou sua hegemonia religiosa com quase 90 % da população haitiana católica até 1980. E, contrariamente ao que se esperava, a proclamação da independência não acabou com a clandestinidade e a marginalização que sofreu, mas o faz entrar numa fase que Fridolin Saint-Louis chama semiclandestinidade quando ele disser:

Aujourd´hui encore, dit-il, il (le vaudou) vit dans une semi-clandestinité, même s´il a reçu une reconnaissance constitutionnelle. Il fait toujours partie du non-dit dans le discours public de la majorité de la population, tout en étant très présent au niveau des représentations et des pratiques. Mais en même temps, on ne peut oublier qu´il a aussi été porteur des résistances contre l´esclavage et contre tout ce que fut, dans l´histoire, le système économique d´exploitation du noir (SAINT-LOUIS, 2000, p. 7).

Podemos acrescentar à ideia do autor que esta semiclandestinidade tem por consequência a misturação do culto vodu com os outros cultos cristão, católico e protestante e a falsa conversão às religiões de raiz cristã para escapar às sanções e perseguições sociaisDaí a explicação sociológica da percentagem de 2,1 % dos vaudouisants auto-declarados, que poderia ser muito mais se levarmos em conta esta misturação social oriunda de dois fatos sociais: assimilação e imitação que originam-se da época colonial em que o escravo, acordado e submergido num mundo escravagista excessivamente desigualitário, não tinha outra escolha de sobrevivência que assimilar e imitar o modo de vida do colonizadorO ser haitiano era compartilhado então entre uma vida social dominada pela servidão e domesticação e uma vida religiosa cuja existência era agitada tanto pelos preceitos cristãos que pretendiam humanizá-lo e civilizá-lo quanto pelos cultos vodus que o inspiravam um valor diferente: a liberdade humana. As conversões forçadas, as relações conflituosas entre vodu e catolicismo, as opressões, a falta de conhecimento científico, os primeiros contatos dos escravos com o cristianismo desde na África e seus impactos na vida dos escravos africanos e a falha deducação católica autoritária e da conversão forçada dos fies do vodu são dentre os principais fatores que podem explicar como e por que a imitação do cristianismo pelo vodu era inevitável até legítimaEsta assimilação e imitação faz também parte da estratégia de sobrevivência e de fortalecimento do vodu (NÉRESTANT, 1994). Sem perder, no entanto, sua originalidade africana, o vodu imita para resistir e isso significa que a catolicização assim como a protestanticização dos vaudouisants não foi completa.

Uma das razões desta catolicização inacabada era o fator educativo: entre os séculos XIX e XX, o nível de educação dos vaudouisants compelidos a se converter ao catolicismo nunca foi aprimorado, pois, nas zonas rurais, nos Lakou, eles continuam auto-conservando e praticando seus rituais voduícos. Acrescentados a este aspecto a decadência dos padres católicos corruptos, a deterioração do peso da pretensão civilizatória da igreja católica e o afeto dos vaudouisants à cultura africana. As perseguições dos adeptos do vodu por causa do seu pertencimento religioso os levam não a negar voluntariamente o vodu, mas a fingir e fortalecer sua fé religiosa para ressurgir com mais forca e determinação. Como disse Hurbon nas margens do seu célebre livro, Les mystères du vaudou, em parte, as perseguições e repressões serviram ao vodu a ser mais resistente, forte e permanente. A imitação pelo vodu dos cultos cristãos participa também desta resistência. É dizer, em outras palavras, que as represálias eram uma espécie de bênção e de fortificação para o vodu (HURBON, 1993, p. 68; MÉTRAUX, 1958, p. 58).

A migração forçada e involuntária dos vaudouisants para o catolicismo, o protestantismo e seus movimentos corolários participa também deste processo de misturação que não é um abandono das práticas voduícas, mas uma recomposição mista entre ritos vodus e cristãos. Segundo Hurbon, ritos, festas, cerimônias, calendário litúrgico do vodu são uma imitação do cristianismo. A excelente reflexão crítica de Alfred Métraux sobre o natal no vodu haitiano dá conta da imitação e originalidade do vodu ao mesmo tempo (1958, p. 201-216). As campanhas de destruição dos objetos sagrados do vodu nos anos oitenta para impedir a ampliação desta assimilação e imitação eram inúteis na medida em que, no fundo, os santos da igreja católica já tinham migrado para o vodu sob outros nomes. Por exemplo, Legba, chefe dos portões no panteão vodu, é a figura emblemática de Santo Pedro no catolicismo; Saint Jacques le Majeur é encarnado por Ogou Batala ou Ogou Feray e assim por diante. As relações culturais entre vodu e catolicismo são interativas enquanto no plano doutrinal e dogmático eles estão em conflito. Desta forma, parece que existe na sociedade haitiana um vodu católico e um catolicismo voduíco. Contudo, dizendo isso a ideia não é definir um pelo outro, mas mostrar que o vodu, como toda outra religião, sofreu influência e violência de outras religiões com as quais ele estava em contato.

Há duas dimensões sociais na manifestação do vodu que devemos sublinhar. Primeiro, o vodu é considerado como maior parte da cultura popular haitiana e cimento social que tece os Haitianos entre si concedendo-lhes concede uma identidade social imanente às práticas e hábitos sociais. Em segundo lugar, o vodu é uma religião de resistência e a forma de expressão das calamidades, sofrimentos e dores psicológicos e sociais do haitiano e o amarra com sua ancestralidade. O vodu é o culto que o Haitiano canta e ao qual recorre quando estiver em aflição e em busca de dimensão mística, espiritual e mágica para ter sucesso no plano sentimental, social, político ou econômico. O etnólogo, Jean Price-Mars, é um dos famosos intelectuais haitianos – senão o primeiro – que tenha atraído nossa atenção sobre a profundeza social, cultural e religiosa do vodu. Seu famoso livro, Ainsi parla l´oncle (1928), um verdadeiro hino à cultura africana inclusive o vodu e um dos estudos mais completo sobre o vodu, defende a tese segundo a qual o vodu constitui a essência da vida cultural quotidiana dos haitianos e a base da construção social da sociedade haitiana. Para ele, as raízes culturais haitianas são africanas e o vodu é esta cultura que nos liga à África. Assim, é inútil discutir se o vodu é uma religião ou não, Price-Mars já respondeu a esta preocupação sustentando três aspectos racionais suficientes – inspirados das Formas elementares de Emile Durkheim – que explicam por que o vodu é uma religião como todas as outras. Primeiro, o vodu tem seus próprios seres espirituais, seu corpo sacerdotal que administra os cultos, os ritos e as coisas sagradas, segundo, sua própria cosmogonia que relata a fundação do mundo e, terceiro, sua própria teologia que explica as relações entre as loas e os crentes (PRICE-MARS, 1928, p. 44-50). A citação em baixo permite entender mais claramente que o vodu é uma religião completa.

Le Vaudou est une religion parce que tous les adeptes croient à l'existence des êtres spirituels qui vivent quelque part dans l'univers en étroite intimité avec les humains dont ils dominent l'activité. Le Vaudou est une religion parce que le culte dévolu à ses dieux réclame un corps sacerdotal hiérarchisé, une société de fidèles, des temples, des autels, des cérémonies et, enfin, toute une tradition orale qui n'est certes pas parvenue jusqu'à nous sans altération, mais grâce à laquelle se transmettent les partie essentielles de ce culte. Le Vaudou est une religion parce que, à travers le fatras des légendes et la corruption des fables, on peut démêler une théologie, un système de représentation grâce auquel, primitivement, nos ancêtres africains s'expliquaient les phénomènes naturels et qui gisent de façon latente à la base des croyances anarchiques sur lesquelles repose le catholicisme hybride de nos masses populaires (PRICE-MARS, 1928, p. 45).

Seria ininteligível acreditar que o vodu não tem sua própria moral enquanto ele é intrinsecamente amarrado aos costumes, hábitos e tradições – principais fontes da moral – dos haitianos sem esquecer sua ética semelhante a qualquer outra religião do mundo. Ele permanece, portanto, a religião popular enraizada na história social e cultural do país. A respeito da função ilimitada do vodu na sociedade haitiana, é bom retomar esta frase de François Houtart prefaciando o livro de Fridolin Saint-Louis:

Il n´est donc guère facile de distinguer toutes les fonctions exercées par le vodou tout au long de l´histoire haïtienne, car il est, à la fois, protestation et expression festive, exaltation symbolique du monde de la nature et action magique pour en contrecarrer les effets, facteur d´identité et de pouvoir social. C´est dire que toute analyse du vodou est nécessairement un voyage au coeur de la société (SAINT-LOUIS, op. cit., p. 7-8).

Gostaríamos de concluir esta subsecção com uma abordagem sobre fato de o vaudouisant ter medo de declarar sua fé religiosa. Considerando que a percentagem de 2,1 % saiu de uma estatística de 2003 referente aos dados de 2001 a 2002 - período durante o qual o vodu continua sendo perseguido - este medo parecia inevitável e normal. De ordem educacional, este medo afeta o haitiano na sua identidade, faz com que ele tem subestima de si mesmo e está à origem da consequência da exclusão dos vaudouisants destrutura social haitiana. Este problema demonstra que as sequelas das campanhas anti-supersticiosas, da discriminação dvaudouisant por ser um analfabeto que precisa ser civilizado e educado não desapareceram. Muitos deles chamados Les rejetés, sofreram no interior do próprio catolicismo outras formas de discriminação racial e de exclusão social no sentido de que jamais nenhum dentre eles conseguiu alcançar um nível de educação superior uma posição de liderança na igreja católica. Eles foram deixados na escala social mais baixa e tratados como crentes do terceiro estado, porque sua educação religiosa foi muito inacabada e corrompida pelo culto vodu. O que faz com eles nunca conseguiram integrar-se na comunidade católica pela desconfiança da hierarquia católica nas suas capacidades intelectuais de dirigir, pelo medo de ver o catolicismo corrompido pelos cultos vodus e pelo conservadorismo religioso.

O medo dos adeptos do vodu de declarar e exibir sua fé se expressa pelo que chamaríamos um quilombola religioso acompanhado de uma perseguição religiosa silenciosa. Com efeito, o medo de serem criticados, atacados, violentados, perseguidos e de sofrer represálias, obriga muitos vaudouisants a aceitar uma vida religiosa marginal a fim de se auto-proteger. A maioria prefere dizer que é católica acrescentando o sufixo «não praticante». Esta maneira de agir se refere aos sentimentos de inferiorismo que Price-Mars chamou bovarismo coletivo, em lugar do qual usaremos o termo bovarismo individualista para falar de uma atitude individualista que leva o indivíduo não a se ver e a se aceitar como ele é exatamente, mas a se assemelhar com o outro. Desta maneira, muitos vaudouisants se veem como católicos, alguns como cristãos e outros como protestantes, mas não como vaudouisants enquanto, diferentemente do catolicismo, no espírito ancestral, o vodu é uma religião de auto-proteção e de autoconfiança que inspira o haitiano a lutar e a resistir às atrocidades e impiedades do sistema opressor, a não aceitar sua sentença social como acabada.

Considerações finais

Pelo que acabamos de ver, esta secção conclui que, efetivamente, entre catolicismo, protestantismo e vodu houve conflito até violência simbólica que impediram o desenvolvimento e o funcionamento normal de cada um. Católicos estavam em guerra contra o vodu para instaurar na sociedade uma ordem perfecionista. Os ataques dos católicos e protestantes contra o vodu buscaram pressioná-lo e eliminá-lo do universo socioreligioso haitiano. O conflito religioso entre católicos e protestantes era (e é ainda) pela hegemonia religiosa e pelo controle do sistema religioso, dos interesses e privilégios que ele garante. Mas, qual é a situação dessas três religiões nos conflitos armados e violências coletivas em Cité Soleil? A questão da meta-mediação que abordaremos nesta próxima secção será articulada em torno do comportamento e atitude delas.

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jeudi 30 août 2018

LE DOSSIER DE CORRUPTION PÉTROCARIBE: ENTRE INDIGNATION, ÉMOI ET HYPOCRISIE

Il ne fait aucun doute que, depuis un certain temps, le monde est informé du dossier Pétrocaribe qui accuse, selon les rapports, une gestion catastrophique. Si ce dossier trainait - il y a un bail - entre le parlement (le Sénat surtout) et la Cour Supérieure des Comptes et du Contentieux Administratif (CSCCA) dans presqu´un sempiternel va et vien, aujourd´hui, désormais, les mouvements populaires - organisés ou pas - s´en accaparent, veulent s´en charger, se l´approprient, demandent des comptes et réclament que les coupables soient traduits en justice. Est-ce une bonne chose? Cela dépend du côté où l´on se positionne. Néanmoins, il y a lieu de souligner que le Pétrocaribe n´est qu´une goutte d´eau dans cet océan de corruption qui paralyse la société haitienne. Elle commence dès les petites mauvaises moeurs au sein des familles, à l´école ou dans des cercles socio-amicaux jusqu´à la corruption formelle et institutionnelle en passant bien sûr par "ce n´est pas moi c´est lui". Il faut un début en tout, certes, mais ce début tel qu´il est annoncé dans ce dossier-ci est craintif et l´on ne pourrait ne pas se questionner sur son issu.

Dans ce dossier vaste et complexe - laissant les côtés technique, juridique et politique -, j´aurais aimé réflechir sur trois aspects qui m´intéressent plus particulièrement: d´abord l´indignation collective qu´il suscite, ensuite, les émois psychologico-sociaux qu´il crée dans les pensées des différentes catégories sociales - les classes moyennes et pauvres surtout -, enfin, l´hypocrisie qui rode autour de lui. Sur ce, bien qu´important et même si un jugement a lieu suivi de condamnation des uns ou d´acquitement des autres, la trajectoire que prend le dossier de corruption Pétrocaribe me donne l´impression qu´il pourrait bien se terminer en galvaudage. J´entends par là le fait d´indexer uniquement le Pétrocaribe comme paroxisme de la corruption dans la société haitienne, alorsqu´au même moment on continue de cuisiner dans cette vieille chaudière trouillée de corrupteurs et de corrompus qu´est le système social haitien.

1. L´indignation collective

 Il s´avère tout à fait juste et compréhensible qu´un tel sujet indigne, car, ceux et celles qui ne sont pas nés de la dernière pluie, savent très bien que pas seulement eux-mêmes, mais leurs petit-fils et leurs arrières petits-fils (et même leurs arrières arrières petits fils) vont continuer à payer cette dette qui, contractée en leur nom et en celui de leur progéniture, ne leur a rien rapporté de concret dans l´immédiateté en termes de changement ou d´amélioration de vie sociale ou économique, mais surtout ne résoudra pas non plus pour leur progéniture les problèmes de toute sorte: santé, éducation, eau potable, logement, emplois et autres auxquels ils font face dans ces temps présents.

En effet, dans la société haitienne comme dans sa diaspora (États-Unis, Brésil, Chili, République Dominicaine), la presse nationale et internationale nous ont permis de constater combien le dossier de Pétrocaribe est devenu très préoccupant pour les Haitiens. Pour une fois, peut-être, depuis des années ils s´uniraient d´une seule et même voix pour demander des comptes. Devrions-nous, de ce fait, espérer un second procès de la consolidation? L´avenir le dira. Toutefois, il reste à entrevoir que des milliers de gens pour la plupart issus de la classe pauvre se sont massés devant la CSCCA, la seule instance responsable et compétente en matière de jugements relatifs aux dossiers de gestion des fonds de l´État, pour dénoncer cette grande injustice et violence sociale que représente la dilapidation des fonds Pétrocaribe.

Oui, en plus d´une grande injustice sociale puis qu´une catégorie aura toujours la chance d´en profiter plus largement qu´une autre et au détriment de son bien-être social, la mauvaise gestion des biens publics y compris ce fonds constitue une violence sociale sur chaque haitien en ce sens qu´il appauvrit et misérabilise plus qu´il améliore les conditions de vie. Dans le monde d´aujourd´hui, ce qui importe aux chercheurs (anthropologues, sociologues, historiens, politiologues, etc.) est moins la pauvreté que l´appauvrissement ou la paupérisation (un processus) ajouté à cela le misérabilisme (l´état de fait), deux véritables crimes contre chaque être humain qui aspère ne serait-ce qu´à un mieux être. Autrement dit, l´appauvrissement n´est autre que les mécanismes mis en place par la classe dominante et l´État complice pour appauvrir ceux et celles qu´ils visent. Donc, la pauvreté serait une création de cette classe en complicité avec l´État.

Il n´est pas possible d´entamer, dans le cadre de cet article, un débat mûr intellectuel et scientifique autour des concepts tels que pauvreté, appauvrissement et misérabilité. Néanmoins, de manière très succinte et objetive, ce qu´il y a lieu de retenir ici, c´est que, contrairement aux idées reçues, la pauvreté n´est pas un état, mais un processus né d´un ensemble de mauvaises décisions prises en matière de gouvernance. Voilà pourquoi, on emploie de préférence l´expression paupérisation ou appauvrissement, dont les résultats débouchent généralement sur le misérabilisme, pour désigner cette étape de la vie humaine qui n´est pas du tout plaisante.

La pauvreté telle qu´il existe dans les pays du sud comme Haiti est née de volontés politiques accumulées pendant de longues années, c´est en outre la résultante de tout un ensemble de choix, d´orientation, de vision et de décision pris par les hommes politiques de ce pays depuis des générations. Et c´est ce que symbolise le dossier Pétrocaribe qui fait partie de cette dynamique de socialisation de la pauvreté en Haiti. C´est ce qui justitifie, en outre, que dans la presse parlée, écrite, télévisée et radiofusée, les mots ne manquent pour qualifier ce crime contre l´humanité et la société en même temps. Car, les endettements d´Haiti, au lieu de profiter aux familles pauvres , ils ne font plutôt que les enfoncer encore plus dans la pauvreté et la misère. Alors que s´ils étaient bien gérés, cela aurait pu, d´une part, être une motivation sociale pour beaucoup de gens de savoir que leur état de pauvreté n´est pas une fatalité, faciliter des ascensions sociales, de l´autre. C´est dans cet angle là qu´il faut surtout situer l´ampleur et la dimension profonde de l´indignation collective, car, le Pétrocaribe rappelle aussi le phénomène de la fin tragique du pauvre de telle sorte que le pauvre a été prédestiné et élu pour vivoter et mourir dans cet état. 

Or, l´inverse est tout aussi vrai. Quand on naît d´une famille aisée, on vit ainsi et on y meurt tel quel, donc, si pour celle-ci on peut parler de stagnation sociale, pour la famille pauvre on constate qu´il n´y a pas d´ascension sociale. Ou du moins, on aurait pu parler de changement social vers le bas pour certains (les classes pauvres) et vers le haut pour d´autres (les classes aisées). Sur ce, il est difficile de parler de transition ou d´ascension sociale dans la société haitienne de telle sorte que des études et recherches scientifiques démontreraient clairement comment s´est effectué ce changement ou cette amélioration dans la trajectoire des conditions de vie de l´individu tant sur le plan social qu´économique et financier. Voilà pourquoi l´indignation collective que suscite le dossier de corruption Pétrocaribe doit plus que jamais porter chaque haitien - surtout ceux et celles en position de leadership - à prendre conscience de l´état gravissime de ce pays. Et, si ce dossier nous permet de rappeler qu´au lieu d´ascension sociale, il vaut mieux parler de sursaut social dans le cas de la société haitienne, ce que langage populaire appelle "dòmi pòv leve rich", c´est pour dire qu´il est aussi sociétal.

Si le peuple s´indigne c´est parce qu´il réfléchit et comprend ce qui est entrain de se passer autour de lui, donc, il n´est pas bête, comme dirait l´autre, "l´analphabète n´est pas bête". Et s´il comprend ce qui se passe, c´est qu´il a la capacité de réagir et quand il le fait, il peut en sortir - souvent, mais pas toujours - une colère noire et une violence collective incontenable et incontrolable. C´est ce qu´il ne cesse de faire remarquer depuis des années par des sorties fracassantes: 1946 des soulèvements populaires ont fait chuter Magloire, 1950 c´était le tour d´Estimé, 1986 la maison Duvalier malgré son apparente inébranlabilité s´est effondrée, 2004 M. Aristide a reçu sa part du gâteau, 2008 les émeutes de la faim ont contraint M. Alexis à la démission, et plus récemment, les violences des 6 et 7 juillet 2018 ont ouvert la voie au choix d´un nouveau premier ministre qui, depuis plus d´un mois que ces événements se sont déroulés accompagnés de leurs conséquences désastreuses, n´est pas toujours ratifié par le parlement. Tout cela a un coût plus précisément social.

Ainsi, il faut remarquer une chose, c´est que chacun de ces événements produit comme effet des changements d´hommes au niveau du système socio-étatique régnant en permanence, mais jamais ni de changement du système en lui-même ni de changement de mentalité pour que, par la suite, l´on obtienne le résultat escompté, à savoir, le changement des conditions de vie et des comportements sociaux nocifs à la bonne marche de toute société. Il en émerge le plus souvent une nouvelle catégorie d´hommes qui, n´ayant pas été ou n´étant pas mieux que les autres, coûtent socialement plus chers. Tout changement apporte son coût social et sociétal à lui, certes, mais, le nôtre est le plus souvent trop élevé parce que les indignations populaires sont toujours restées lettre morte, sans réponse ni réaction positive. Pourquoi? La réponse ne peut pas être donnée ici, toutefois, on ne peut que formuler le voeux pieux que cette fois-ci le Pétrocaribe puisse interpeler les consciences - les plus têtues surtout - afin qu´un nettoyage social total, global et profond soit rapidement entamé dans le système. C´est tout ce dont l´indignation collective a besoin pour avoir de l´effet, car, si le peuple s´indigne et investit les rues de la capitale et des villes de province - et peut-être continuera-t-il à y rester - ce n´est pas pour badiner ni rigouler, mais pour réclamer justice voire réparation, exprimer sa fatigue et sa colère contre un système corrompu et pourri de la tête au pied, mais surtout faire ressortir ses émois qui le tracassent en augmentant chaque jour.

2. Les émois psychologico-sociaux

L´émoi, selon Larousse, caractérise une profonde inquiétude qui est le fait d´être privé de certitude et d´assurance du lendemain. L´inquiétude, quand elle se nourrit, peut déboucher sur la peur, la peur de vivre, d´aimer, d´être aimé(e), de mourir, de circuler, d´entreprendre des relations, de s´engager, de voyager, de parler, de s´exprimer, d´échanger, de faire confiance à quelqu´un, de dialoguer, enfin, la peur d´accepter d´être soi-même. Qui en Haiti - à quelle que classe sociale il appartient - peut oser dire qu´il n´est pas terrassé par toute sorte d´inquiétude? Les inquiétudes sont multiples dans la société haitienne et peuvent être, pour le moins qu´on puisse dire, de caractère naturel, environnemental, social, économique. L´affaire Pétrocaribe à elle seule suscite déjà surtout des émois psychologico-sociaux et économiques au sein de différentes catégories sociales.

En effet, tout d´abord, ce dossier provoque tellement d´émois sociaux et psychologiques qu´elle est perçue, en Haiti et dans la communauté haitienne à l´étranger, comme l´affaire du siècle ou le péché fatal méritant la peine capitale. Car, il fait revenir aux esprits ce grand fossé social existant entre riches et pauvres, ou ici, entre cette mauvaise gestion et les conditions de vie de la majorité des Haitiens (avec moins de 65 gourdes par jour). Il est en quelque sorte le point culminant du fossé de la honte, de l´inéquitabilité, de l´injustice, de l´indignité et de l´inhumanité, voilà pourquoi Haiti figure sur la liste des pays où le bonheur (qui, dans les pays du nord, atteint déjà le stade de bien collectif et un état social auquel doit aspirer tout individu) reste un énorme défi.

Plusieurs catégories sociales s´inquiètent pour des raisons diverses. La première est composée, bien évidemment, de gens des classes moyennes et pauvres qui sont beaucoup à s´inquiéter de leur lendemain, et cela est expressif sur leur visage dans les manifestations et dans leur langage sur les réseaux sociaux, de l´avenir de leurs enfants qu´ils ne pourront plus continuer à envoyer à l´école, à donner à manger, à habiller, à soigner vu que leur avenir se trouve déjà hypothéqué en vertu de ce prêt gaspillé par des dirigeants qui ne font qu´accumuler des mauvaises notes en matière de gouvernance, de gestion des biens publics et de répartition des maigres ressources naturelles et humaines dont dispose le pays. Cette catégorie sociale est la plus vulnérable de toutes, car, indécise et plus affectée par les émois psychologico-sociaux et les besoins économiques, elle sait qu´elle vend et va continuer à vendre encore plus tout ce qui reste de sa force de travail pour gagner un salaire suicidogène.

D´autres s´inquiètent de se faire rattraper puis culpabiliser, car on ne sait jamais s´il ne reste un dernier homme honnête et courageux au sein de la justice haitienne qui, au péril de sa vie et de celle de sa famille, accepterait de mettre la main au collet des plus puissants corrupteurs et corrompus de ce pays. Car, que l´on veuille ou pas, Pétrocaribe est un grand dossier avec lequel on ne peut badiner dans la mesure où il implique de puissants hommes d´affaires (haitiens et étranger) et de dignitaires d´État. Certains juges auraient préféré ne pas avoir sous la main un tel dossier brûlant où de grands intérêts sont en jeu, donc, ils sont tout aussi inquiets que les coupables. En fait, n´importe quel vulgaire citoyen indirectement mouillé par ce dossier a le droit de s´inquiéter, qu´il soit dans le sens positif ou négatif.

Les émois continuent d´envahir d´autres personnes encore qui, si le dossier est bien géré et la réforme du système entamé, verront leur pouvoir de corruption subir de sérieux impacts ou même affaiblir. Il y a par conséquent la bonne gestion de ce dossier qu´il faut espérer. Or, cette bonne gestion est-elle possible avec cet appareil judiciaire dont on sait qu´il est truffé de corrompus et de corrupteurs? Bien qu´on doute fort, on peut tout de même espérer en la bonne volonté de certains hommes de ce pays qui souhaiteraient combattre la corruption sous toutes ses formes. Cela paraît étonnant. He bien oui, il existe en Haiti une poignée d´hommes qui gagne honnêtement sa vie, fait de bonnes affaires, fuit les contrebandes tout en voulant lutter de toute sa force contre la corruption qui a déjà fait trop de dégats à ce peuple. Mais, hélas!, non seulement, ces gens-là sont très peu nombreux, mais encore s´ils sont intellectuellement influents, socialement importants, techniquement et politiquement ils sont impuissants: les corrompus et les corrupteurs sont plus pluissants qu´eux, car la corruption est d´abord hautement politique avant d´être sociale.

Ainsi, les émois émergent de toute part tant au milieu des victimes (les masses crasseuses et miséreuses qui subiront le plus le poids de cette dette) qu´au sein des dilapidateurs de ce fonds et leurs bénéficiaires. La réalité sociale nous rattrape toujours et la corruption est un couteau doublement tranchant dont les conséquences, surtout dans le cas d´un pays pauvre comme Haiti, répercutent sur tout le monde. Le dossier Pétrocaribe est eau qui mouille tout le monde.

3. Les hypocrisies

En fait, le côté hypocrite de ce dossier c´est l´image qu´il tend à projeter dans la société en ce sens qu´il serait le paroxisme des affaires de corruption en Haiti. Une image totalement fausse. Si le Pétrocaribe traduit la haute corruption, il est plus vaste que ça, il va au-delà d´une simple question de corruption. Ce serait malhonnête de le réduire uniquement à sa dimension corruptible, ce même si la corruption est présente au quotidien dans les petites moeurs jusque dans les hautes fonctions en passant par les relations sociales, familiales et amicales. Car, au moment même où des manifestants étaient massés devant la CSCCA contre Pétrocaribe et contre la corruption - car les deux rentrent depuis un certains temps dans une sorte de simbiosité parfaite - une plume était entrain de signer un papier destiné à la corruption. Le temps ni l´espace ne se prêtent pas pour discuter de la corruption, ce sujet si complexe et compliqué, mais il faut souligner que le Pétrocaribe est orné d´autant de méchancetés que d´hypocrisies. Je crains fort, pour cela, qu´il ne soit voué à un regrettable échec. Mais, cela se comprend, car le Pétrocaribe est la goutte d´eau qui vient renverser la vase. D´où toute son ampleur et sa traduction comme la corruption du siècle dont tout le monde a soif d´un jugement.

En outre, ce dossier attise une autre forme d´hypocrisie qui se symbolise par des exclusions, des intolérances et des violences verbales ou physiques des uns qui se croient plus haitiens que les autres et veulent, en toute exclusivité, faire leur ce dossier. Dans ce cas, il y a distinction entre haitiens de première classe des haitiens de troisième classe. En effet, dans les manifestations, nous avons assisté à des scènes pareillles, où des personnes dont la présence a été jugée inappropriée - peut-être une base de mauvaise expérience ou de trahison par le passé - ont, malheureusement, été bousculées ou même chassées du milieu des manifestants. Une telle atmosphère, n´est pas socialement favorable au procès social qu´on recherche en parallèle au procès politique et juridique. Le procès social veut l´inclusion et non l´exclusion, et doit faire appel à l´unité sociale, à la cohésion sociale et à la conscience sociale. Aborder le Pétrocaribe en excluant l´autre, c´est comme se planter un poignard dans le coeur, car mis à part le procès surtout juridique que tout le monde hâte de voir poindre, il y a le procès social qui, à mon avis, est le plus important et ne se fera jamais dans ce climat d´intolérance et d´exclusion.

Il est important de comprendre que, dans un premier temps, le Pétrocaribe est un dossier national auquel tout haitien, où qu´il soit, quelles que soient sa famille et sa classe sociale, peu importe son rang et ses relations, doit participer. Et, j´oserais même aller un peu plus loin en disant que même les dilapidateurs ont leur place dans les débats autour de ce sujet, car ils sont les véritables concernés. L´esprit de la contradiction et de l´acceptation de l´autre doit commencer à être valorisé parmi nous si l´on veut aboutir à des résultats socialement satisfaisants dans ce dossier. Certes, ce serait irrationnel  d´espérer que certaines personnes d´ores déjà indexées participent aux mouvements anti-Pétrocaribe, mais, se trouvant de l´autre côté de la barre, il faut qu´on les écoute à moins qu´ils soient à court d´argumentations. Donc, c´est un dossier qui, pour une fois, doit unir les Haitiens (coupables ou non coupables; complices ou non complices), non pas les diviser encore plus qu´ils le sont aujourd´hui. Car, même pour les dilapidateurs, leurs complices et bénéficiaires ainsi que pour leurs enfants et les enfants de leurs enfants les résultats de cette affaire doivent être socialement profitable, sinon c´est l´échec social total.

Dans un second temps, le dossier Pétrocaribe a déjà transcendé le milieu social haitien pour se porter à un niveau international et je dirais même mondial et global, alors à quoi sert cette exclusion ridicule qui, à mon sens, est une forme d´hypocrisie tendant à l´exhibitionisme de ceux ou celles qui  se croient ou prétendent être plus Haitiens que les autres? Or, en allant plus loin, on oublie qu´il y a même des étrangers qui y sont concernés vu qu´ils vivent dans le pays, y investissent, y ont de grands intérêts. Eux aussi subiront les impacts de la mauvaise gestion du fonds Pétrocaribe et de la corruption sous un angle général, en ce sens qu´ils sont exposés aux mêmes calamités dues à la circulation, au manque de transparence, à la santé, à l´insalubrité environnementale, à la vulnérabilité écologico-naturelle etc.

Et, finalement, même si beaucoup d´étrangers - certains haitiens issus des familles aisées également - qui vivent dans le pays ont des moyens pour se louer un avion-ambulance pour des soins de santé préliminaires qu´ils peinent tant de trouver ici, il appert qu´ils restent extremement vulnérables en vertu du fait que ce moyen de secours coûte beaucoup plus cher et est moins sûr que si les infrastructures médicales et hospitalières étaient déjà sur place pour procurer les premiers soins de santé. L´avion-ambulance deviendrait, par conséquent, l´ultime recours dans le processus médical de sauvetage des vies, et jamais le premier. Dans les pays très avancés, la santé, un bien collectif et commun à tous, est rigoureusement bien géré et pris en charge par l´État, un pauvre est beaucoup moins vulnérable que n´importe quel "richard" en Haiti.

Ainsi, le procès Pétrocaribe auquel le plus commun des mortels parmi les haitiens aimerait assister, ne se fera pas si, d´abord, la réforme du système judiciaire n´est pas enclenchée, ensuite, si la sécurité des juges qui auront à statuer sur cette affaire n´est pas assurée voire renforcée, enfin, si les témoins (à gages ou pas), les victimes (directes, indirectes ou colatérales), les auteurs, co-auteurs et complices ne bénéficient pas d´une haute surveillance et protection policière, afin de faire obstacle à toute tentative ou tout acte d´intimidation, de pression, de chantage, de fuite, de suicide, d´assassinat, d´empoisonement. Contrairement au procès de la consolidation, qui a marqué le 20ème siècle haitien et a impitoyablement permis la promotion sociale et politique à certains auteurs, on espère bien que les coupables du Pétrocaribe, qui marque d´ores et déjà le 21ème siècle haitien, ne seront pas réintégrés dans d´autres fonctions publiques ou privées, éclipsés sous des statuts de conseillers spéciaux ou chargés d´affaires dans des cabinets (présidentiel, ministériel ou parlementaire) ou transférés dans des postes à l´étranger, mais que leur jugement soit impartial et leurs sanctions justes et équitables.

Considérations finales

Enfin de compte, si le Pétrocaribe a la capacité d´unir, il peut aussi diviser et il divise déjà. De plus, s´il arrive à susciter autant d´indignation sociale c´est qu´il invite à aller beaucoup plus loin dans le combat contre la corruption en guérissant le mal par ses racines. Même si le Pétrocaribe est un dossier de haute corruption, susceptible d´initier le grand combat à la corruption, il y a par contre la culture de la corruption en elle-même contre laquelle il faut ardemment, durement et rigoureusement lutter. Une question me perturbe souvent l´esprit: comment quelqu´un peut prétendre être en sécurité avec le ventre rempli au milieu d´une bande d´affamés? La corruption c´est ça, on se mord le doigt sans s´en rendre compte. Haiti est ce paradoxe. Les manifestations contre Pétrocaribe doivent être le signal qui permet d´entrevoir que le problème est beaucoup plus vaste et compliqué que ce que l´on voit. En s´y attaquant ainsi qu´aux auteurs et complices, sans profiter pour procéder à un nettoyage absolu du système, on ne fait que mettre du vin nouveau dans de vieilles outres. 


Campinas, 30 août 2018

dimanche 29 juillet 2018

HAITI, TRAIN DE VIE DE LUXE DANS LA MISÈRE: UNE CRUAUTÉ MENTALE TOUT SIMPLEMENT

J´ai suivi avec autant d´intérêt que de milliers d´Haitiens se trouvant tant en Haiti qu´en terre étrangère les infos relatives aux émeutes des 6 et 7 juillet 2018, qui ont saccagé et plongé une fois de plus le pays dans des violences collectives. Les dégats matériels sont énormes et même incalculables. Les conéquences - à connaître dans les jours à venir - seront douloureuses. Pour une inième fois, le peuple haitien a frappé fort et il va falloir une bonne vingtaine  d´années - voire même plus - afin de non seulement panser les plaies, mais surtout redonner confiance aux investisseurs haitiens et étrangers. Je ne me sentais pas trop vouloir me prononcer là-dessus autant qu´il y a tellement de gens qui en parlent, et, même si les opinions divergent, chacune d´elles a été appréciée à sa juste valeur. Néanmoins, de toutes les interventions médiatiques suivies et de tous les éditoriaux et articles lus sur le sujet, il me semble que quelque chose échappe à la compréhension de ces événements. C´est que, à mon sens, ils sont le reflet d´une consternation sociale encore en veilleuse traduisant ainsi que le pays ne peut plus continuer à mener ce train de vie incompatible entre le luxe des uns et la misère infernale des autres. Sur ce, il reste encore de la place pour cette réflexion que nous proposons ici autour de ce que nous appelerons la cruauté mentale des dirigeants haitiens.

Pour certains, ce qui s´est produit pendant ces deux journées de casses, de pillages, d´incendies et de violences dans le pays a été spontané, planifié et prévu pour d´autres. Alors qu´une troisième catégorie soutient que l´affaire de l´augmentation du prix du carburant a été la dernière goutte d´eau qui a fait renverser le vase de la frustration sociale, une quatrième s´accorde à faire croire que le peuple n´avait pas du tout raison de déclencher une si grande colère, donc le gaz n´était qu´un prétexte pour que des criminels notoires, des spécialistes de la violence, des ennemis qui ont une haine démesurée pour le développement de ce pays, des racistes aux peaux noires en profitent pour régler leurs comptes. Mais, il y a un dernier point de vue à prendre en compte puisque celui-ci provient de la conscience collective elle-même, c´est que le peuple n´a pas tort d´avoir agi de la sorte et que sa violence est la réponse la plus immédiate à la cruauté mentale des dirigeants haitiens qu´il faut remettre en cause.

Sur cette lancée les questions suivantes se posent:  Pourquoi est-il si difficile aux gouvernants haitiens de comprendre que la misère et la pauvreté de plus de 8 millions de gens sont insupportables et qu´ils ne peuvent vivre dans le luxe avec les taxes et impôts des citoyens pendant que le peuple, lui, continue de mener un train de vie abjecte? Pourquoi n´arrivent-ils pas à comprendre qu´il n´y a rien de plus honteux et humiliant pour un père ou une mère de famille que de voir son enfant crever de faim sous ses yeux impuissants, mourir sur ses bras faute de soins médicaux, devenir gangster faute de scolarité et de profession? Ce n´est pas les hautes études ni la capacité intellectuelle ni les relations qui l´empêchent, mais une sorte de cruauté mentale qui suppose que nous sommes faits pour être esclaves et nous nous esclavagisons nous-mêmes en ne veillant pas sur le bien-être des autres. Les dirigeants haitiens, paraît-il, ont un instinct criminel et cruel de faire souffrir impitoyablement leurs compatriotes sans jamais penser que cette souffrance - arme à double tranchant - peut retourner contre le pays et met la société à feu et à sang. En faisant fi de la misère et la souffrance des autres et en les agaçant avec un train de vie de luxe, ils aggravent leur consternation et suscitent leur instinct de vengeance. Tel est le but de la cruauté mentale: enlever à l´humain toute sensibilité humaine et lui dérober tout bon sens de la réalité.

En effet, Haiti est cet endroit spécial de ce coin de terre où le riche et le pauvre paient les mêmes impôts, taxes et obligations sur les produits, biens et services, où la vache grasse s´allaite sans arrêt à la vache maigre et squelettique, enfin, où la misère et la pauvreté des uns font le bonheur, le luxe et le lucre des autres. En matière d´impôts, taxes et obligations, il n´y a pas ce principe de traitement proportionné qui veut que chacun paie en proportion de ses moyens et en fonction de ses revenus comme le font les autres pays, ceux du nord surtout. Par exemple, sans besoin de savoir les sources de revenus, si les impôts locatifs sont de l´ordre de 10 % des revenus, la Direction Générale des Impôts (DGI) applique les mêmes grilles tant au citoyen riche, moyen qu´au pauvre. En outre, quand l´État doit prélever 5 % des droits sur le chèque du salaire brut d´un employé de la fonction publique, il le fait pour l´employé moyen comme pour un ministre ou directeur général qui, bien évidemment, ont des avantages sociaux, économiques et financiers beaucoup plus élevés que celui-là. La société haitienne est construite sur cette base inégalitaire tellement criante et suffocante que le riche et le pauvre, n´ayant pas du tout les mêmes trains de vie, sont assujettis aux mêmes obligations fiscales. C´est le seul endroit où ils se croisent et s´estiment égaux alors qu´ils se haissent et se détestent mutuellement.

Dans cette situation d´étouffement, ceux qui sont pauvres ne s´en sortiront jamais. Ils sont condamnés à le rester, en d´autres termes, il n´y a presque pas à proprement parler d´ascension sociale en Haiti que l´on confond le plus souvent avec sursaut social. Parce que ce sont eux, ces pauvres, c´est-à-dire ceux et celles qui, selon la Banque Mondiale, vivent avec moins de 2 dollars par jour, subissent le poids le plus lourd de cette injustice, pendant que les riches trouvent toujours un moyen de contourner la loi à leur faveur. Dans la société haitienne, c´est la jouissance d´une vie de luxe d´une infime minorité au milieu des misères et pauvretés d´une grande majorité. Le pir c´est que les dirigeants n´ont absoluement rien fait pour amoindrir les barres d´inégalités sociales. Bien au contraire, l´État est une vache à lait où tout poste auquel accède un individu est synonyme de sursaut social. C´est abérant, mais c´est ainsi que fonctionne malheureusement notre société et c´est sur cette base d´injustice sociale qu´elle a été fondée. Les dirigeants haitiens, véritables complices de cette situation, maintiennent encore plus de 8 millions de pauvres sous le joug de l´esclavage, car, à mon sens, l´esclavage est tout simplement l´impossibilité de jouir de tous ces droits naturels et humains tels que le droit à la liberté, à la vie, à la santé, à la nourriture, à l´éducation, au logement et au bien-être.

Je suis prêt à parier quoique ce soit que les dirigeants haitiens ne se demandent jamais comment vit un haitien, comment va-t-il faire pour se nourrir et vivre dignement, surtout ceux et celles-là dans les quartiers comme Cité Soleil, Cité de Dieu, La Saline, Martissant et autres, où la situation sociale et économique est terrifiante sans compter les oubliés des départements, communes et sections communales de plus en plus reculés de la zone métropolitaine. Depuis plus de soixante dix années, les dirigeants haitiens ne se sont jamais dits qu´il y a une forte majorité de gens qui ne peut même pas s´acheter un morceau de savon pour se laver le visage, un dentifrice pour se brosser les dents, se payer un sachet d´eau voire avoir à manger pour eux et leurs familles. Je présume qu´ils n´ont jamais mis les pieds dans ces quartiers de misère infernale à moins qu´en périodes électorales. Ils ignorent complètement où, ceux et celles qui se sont sacrifiés pour les élire, habitent et vivent avec leurs enfants. Non loin du centre des trois pouvoirs de l´État, à quelque 5 kilomètres de Port-au-Prince, Cité Soleil est l´endroit où des milliers de personnes vivent dans la saleté la plus humiliante, la bourre, la faim et la crasse les plus ignobles. Or, le peuple n´a pas élu ses dirigeants pour que ces derniers se servent de lui et l´exploitent sans honte et sans scrupule, mais pour qu´ils le servent en améliorant continuellement ses conditions de vie.

Sans avoir l´intention d´épingler tout seuls ces actuels parlementaires qui forment la 50ème législature, il y a lieu de reconnaître que les élus et les hauts dignitaires de l´État coûtent excessivement chers aux haitiens et gèrent très mal les maigres recettes de la république. Au détriment de ces pauvres personnes qui vivent dans le désespoir total et se livrent chaque jour au Bon Dieu Bon pour survivre, ils osent s´octroyer des luxes pharaoniques. Dans un article publié par le Nouvelliste sous la plume de l´éditorialiste Frantz Duval, il est mentionné que l´État dépense à peu près 31 millions de gourdes pour chaque député et 123 pour chaque sénateur indistinctement. Bien que ces sommes ne soient pas en liquide empochées par ces derniers, il appert que le trésor public décaisse annuellement ces sommes faramineuses pour assurer le train de vie luxueux et somptueux de chacun de nos parlementaires. 

Si, en jonglant avec les chiffres, l´on divise 31 millions par 12 mois, on obtient une dépense mensuelle de 2.583.333 de gourdes, soit une dépense journalière de 86.111 de gourdes ou l´équivalent de 1248 U$ (1 U$ = 69 Gdes), ce, sans compter les frais, primes, per diem, cartes de téléphones, fiches de gaz et autres avantages. Par ailleurs, 121 000 gourdes est le salaire brut d´un ministre sans compter les avantages suivants: 44 000 gourdes pour primes, 100 000 pour gaz, 50 000 pour cartes de téléphones et environ 600 U$ par jour de per diem pour les voyages à l´extérieur. Cependant, 7/10 haitiens vivent avec moins de 2 U$ par jour en poche et plus de 3 millions vivent dans l´insécurité alimentaire selon le dernier rapport de la CNSA. Quoi de plus cruel et abjecte! Cela dépasse l´inégalité et l´injustice sociale, c´est de la pure cruauté mentale. Avec un tel train de vie de nos dirigeants, c´est l´État qui les sert non eux qui servent l´État. Ils ne sont point des serviteurs de l´État, mais des enfants gatés, des chouchous de ce dernier.

En fait, le problème ne se trouve pas dans le montant, mais plutôt dans la réalité sociale et économique des plus pauvres à laquelle ces avantages pompeux confrontent - comme nous venons de le souligner - aussi bien que dans la performance et la productivité de nos parlementaires auxquelles ils se rapportent. D´un point de vue logique, chaque élu y compris toute personne payée à l´aide des taxes et impôts publics est un employé du peuple qui est son patron par excellence. Le vote est en quelque sorte un contrat de travail. Si l´on part du principe que tout contrat de travail est conditionné par la perfromance et la productivité de l´employé, alors celui-ci doit s´appliquer à bien faire fonctionner l´entreprise en prouvant sa capacité et en s´acquitant de ses tâches, dans le cas contraire il ne saurait avoir droit à d´autres privilèges que ceux qui lui ont été reconnus outre qu´il court le risque de se faire remercier pour incompétence, manque de performance et de productivité.

Or, le parlement haitien est l´une des institutions haitiennes qui se révèle être la plus paresseuse, non  performante et improductive en termes de voter et faire des lois et de travailler au profit de la population. Combien de lois ont-elles été votées cette année qui soient dans l´avantage de la population et prévoient améliorer ses conditions de vie? Combien de lois qui, ayant été votées par le parlement, ont effectivement apporté une amélioration aux conditions de vie de chaque haitien dans le pays? L´équation est quasiment nulle. Donc, c´est tout simplement immoral et antiéthique de bénéficier des privilèges que l´on ne mérite pas. Mais, la morale et l´éthique valent-elles quelque chose pour ces parlementaires? Ont-elles un sens pour eux?

De plus, cela est tout simplement scandaleux et inacceptable pour au moins deux raisons. D´une part, ces avantages sont prévus dans le budget national qui, pour le moins qu´on puisse dire, est une affaire citoyenne concernant chaque haitien indistinctement où qu´il se trouve. Car ce sont les taxes directes qui le grossissent, et, une bonne partie de celles-ci provient de la classe moyenne qui est désormais sur le point de disparaître. D´autre part, il s´agit d´un enrichissement immoral et antiéthique pour la simple et bonne raison que le parlement en n´arrivant pas à s´acquiter de son rôle le plus sacramentel que lui reconnaît la constitution de la république, celui de controler l´exécutif, il n´est pas performant encore moins productif. Malheureusement, ce rôle a bien longtemps été vilipendé, ils ne le remplissent presque pas.

Les événements des 5 et 7 juillet dont le bilan en termes de dégats matériels sera extrêmement lourd, traduisent, à mon sens, un besoin du peuple haitien, celui de se sentir écouter dans sa souffrance. Ils sont l´expression d´une société frustrée et la conséquence de l´ignorance de ses problèmes structurels jamais résolus, car au lieu de les résoudre les dirigeants ont préféré s´attarder sur les problèmes conjoncturels et artificiels. Leurs conséquences commencent déjà à se faire sentir malheureusement au milieu de ceux qui étaient déjà vulnérables sur le plan social et économique. Ces 673 employés licenciés de la Delimart en sont l´exemple. Et, si l´on multiplie ce nombre par familles à raison de 6 personnes que chacun de ces employés avait sous sa responsabilité - vu que les familles haitiennes sont si souvent nombreuses -, alors il y aura lieu de constater que des centaines et milliers de personnes sont venues s´ajouter au nombre incalculable de sans emplois qui existaient auparavant sans compter ceux qui ont un emploi déguisé leur permettant seulement de vivoter. 

Le fossé social qu´il y a en Haiti est trop grand, on ne s´en sort pas. Il est caractérisé par ce train de vie de misère d´un côté et de luxe de l´autre qui, non seulement, est une menace pour la survie de ces deux tribus extrêmes (riches et pauvres) - car à mon sens nous vivons encore dans un système tribal, donc le mot classe n´est pas trop approprié -, mais il est surtout suicidaire tant pour les pauvres que pour les riches. Or, les dirigeants ne l´entendent pas de cette façon. Et c´est ce que ces événements et beaucoup d´autres qui l´ont précédé venaient à traduire. Par ailleurs, il faut souligner qu´il y a dans la société haitiennes un problème communicationnel grave entre les gouvernants et les gouvernés en ce sens que le peuple plaint que sa misère est atroce et insupportable et son pouvoir d´achat exécrable, mais les dirigeants répondent qu´ils n´en avaient rien à foutre, cela lui regarde. 

C´est comme du chinois quand il descend dans les rues pour réclamer la santé, l´eau potable, l´électricité, l´éducation pour ses enfants, la nourriture, le travail, pour protester contre la chèreté de la vie, l´augmentation des prix des produits alimentaires, la corruption dans l´État. Personne ne l´entend. Il y a une cassure communicationnelle complète entre l´appareil directoire de l´État et le peuple. Une situation qui le rend violent. Donc, la violence du peuple est née du silence, disons mieux, de la cruauté mentale des gouvernants qui refusent de lui prêter attention. Il arrive que les dirigeants haitiens ne saisissent pas encore que, avec un plan de développement social et économique bien charpenté, retirer au minimum 1 million d´haitiens de l´extrême pauvreté et 2 millions de la pauvreté, c´est écarter une épée de damoclès suspendue sur leur tête et sur celle de leurs enfants et petits enfants, ce que nous appelons ici la consternation sociale totale globale.

On peut dire que, paradoxalement, Haiti est dirigé par des surdoués débiles avec la tête vers le bas et, vue tout ce qui vient de se passer ces derniers temps, il faut dire à l´instar de Thomas Sankara qu´un enfant non scolarisé est un criminel en devenir. Le peuple est mal compris par ses dirigeants qui ignorent complètement ce dont il est capable. Car, comment un ventre bien rempli peut-il prétendre être en sécurité au milieu d´une bande d´affamés? Comment s´attendre à vivre dans un environnement non violent sans investir dans la scolarisation des enfants? C´est comme dans un avion où des passagers de la première classe ne s´inquiètent pas d´une bombe se trouvant en classe économique, pour répéter notre estimable Dany Laferrière. Tel est le comportement lamentable des dirigeants haitiens, passés et présents. Or, pas besoin d´être génie, surdoué ou expert pour comprendre qu´un riche au milieu des pauvres est plus vulnérable que les pauvres eux-mêmes et que sa richesse n´a de valeur que si et seulement si elle permet à ceux-ci de sortir de leur pauvreté. 

Somme toute, encore faut-il être débile, le dernier des tarés pour ne pas comprendre que les gens de Cité Soleil, Martissant, La Saline, Cité de Dieu, aspirent eux aussi à un bien-être, aimeraient goûter au plaisir, ont eux aussi de la bouche pour bouffer quelque chose le matin, de l´estomac pour grignoter et avaler quelque chose le soir avant d´aller se coucher, tombent aussi au malade et nécessitent des soins de santé, rêvent aussi de vivre une vie descente, ont soif d´amour et d´attention, rêvent d´avoir leur propre chez soi et d´envoyer leurs enfants dans des écoles de qualité, sentent aussi le besoin d´emmener leurs femmes et leurs enfants au cinéma, se promener, respirer de l´air frais des les montanges et des parcs ettractifs, et que, enfin, lorsque ces masses qui vivotent dans la crasse se voit priver de tout ceci tandis qu´il pleut abondamment chez l´autre, il faut tout simplement être frappé de cruauté mentale pour ne pas comprendre que c´est tout une consternation sociale totale globale qui est en branle.

Campinas, 29 juillet 2018